sábado, 11 de dezembro de 2010

Somos todos iguais?


Uma das características mais encantadoras do curso universitário que eu faço (assim como as demais áreas humanas) é o fato de ele proporcionar debates sobre assuntos cotidianos e relacioná-los ao nosso objeto de estudo- as obras literárias.

Durante as aulas da disciplina que mais gostei no período recém-terminado estudamos a literatura contemporânea. Como é impossível falar de literatura de uma maneira eficaz sem contextualizá-la com as peculiaridades da sociedade presente nela, esta foi uma das bases de nossas discussões.

Quando se pensa, academicamente, a contemporaneidade é impossível ignorar que uma de suas maiores mazelas é a massificação do pensamento popular. De fato vivemos numa sociedade em que a alienação é mantida através da mídia e também do desprezo por parte dos governantes com a formação de uma consciência crítica. Aqui apresentarei alguns pontos que destacam na massificação.

Sei que escrevi sobre política há alguns meses, mas existem alguns pontos preciso abordar por outra perspectiva. Após a última eleição constatei que muitos dos meus amigos votaram simplesmente por ser algo obrigatório e que seguindo uma linha de raciocínio de isenção de responsabilidade anularam seus votos, algo que, confesso, me deixou um tanto decepcionado. Não que eu considere imprescindível uma filiação partidária, entretanto acredito ser uma obrigação do eleitor, ainda mais alguém que cursa o nível superior, buscar informações sobre quem vai representá-los politicamente. Isso se chama consciência cidadã.

Ainda no que diz respeito a política, algo típico da alienação discutida foi a polêmica eleição de Tiririca em São Paulo. O ato, que foi considerado por muitos como um protesto, para mim nada mais foi do que o triste reflexo de que para a maior parte das pessoas é muito mais cômodo justificar sua preguiça em pesquisar um bom candidato como uma manifestação contra o “sistema”. Eu, por exemplo, votei no candidato Plínio de Arruda Sampaio, ainda que eu tivesse certeza da sua não eleição o que realmente valeu foi a consciência tranqüila quanto a minha atitude nas urnas.

A violenta padronização corporal também é um dos males afetam a população do século XXI. Devido a uma ideologia clichê em que todos devem chegar ao padrão pasteurizado de beleza imposto pelas novelas, revistas e outros veículos de mídia, palavras como “Stroll” (remédio para emagrecer repleto de efeitos colaterais) e “anabolizantes” são freqüentes no vocabulário de muitos dos meus amigos. Por um lado fico triste em vê-los cedendo a um pensamento coletivo tão superficial, por outro fico feliz por perceber que não sou atingido por tal massificação.

Sempre que escrevo tenho uma preocupação grande em não parecer que estou falando de um pedestal e que sou isento aos pontos que tanto critico. Na verdade como um ser - humano sou passível a erros, entre eles a padronização/massificação tão atacada aqui. De fato, mais importante do que ser consciente é querer ser consciente, portanto, por mais difícil que possa parecer, deixemos de ser gente-massa para nos transformarmos em seres pensantes. Vale à pena!

Leandro Sá, 22 anos, questionando: Precisamos ser todos iguais?

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Covardia Textual


Que me perdoe o leitor pela metalinguagem, mas ao escrever o texto que estaria aqui no blog no lugar deste tive uma série de reflexões que se tornaram maiores que o próprio post em questão e que, por isso achei relevante postá-las.

O texto ao qual me refiro, já estava na minha mente desde antes da existência do “Miscelânea” e fala sobre a superficialidade da sociedade de massa contemporânea. Eu abordaria questões como o valor excessivo da aparência, a falta da construção de pensamento crítico além de outros fatores que, a meu ver, são prejudiciais às relações humanas. Contudo, durante a formulação do texto algo me impediu de continuar a sua criação, e é aí que entram as reflexões acima citadas. Surgiu em mim um medo muito grande de atingir negativamente algum dos leitores do blog, isto porque meus leitores são, consequentemente, os meus amigos. Daí parte o conflito que estou aqui confessando, sou textualmente covarde.

Li há uma semana no blog de um amigo do trabalho um post discutindo, com muita propriedade por sinal, a legalização da maconha. Na hora em que li o tema abordado confesso que não tive outro pensamento senão:“Que coragem em abordar um assunto tão polêmico!” e pensando cheguei a conclusão de que em vários momentos deixei de abordar temas presentes na minha percepção de mundo pela repercussão polêmica que eles poderiam causar e por isso me questiono de onde vem esse medo de fermentar a discórdia.

Não é necessário pensar muito para entender a minha dificuldade em falar sobre assuntos que possam agredir as pessoas de alguma maneira. O tal medo de desagradar os outros vem claramente da minha necessidade de tentar agradar a todos, o que gera uma cobrança. Eu particularmente não acho essa uma das minhas características mais positivas e desejo um dia ter atitude suficiente para desprezar o pensamento alheio em relação a mim, mas é algo que ainda preciso desenvolver.

Um acontecimento recente prova esse meu defeito. Neste término de período na faculdade os alunos que alcançam 15 pontos em duas provas são liberados da obrigatoriedade de fazer uma terceira. Nos meus 3 períodos anteriores sempre fui beneficiado por esse sistema e assim nunca havia ido para a temida prova final, até que neste com a pendência de 0,5 pontos (somei 14,5 nas duas primeiras provas) terei que fazer a tal prova. Tão ruim quanto à situação de ter que ir a faculdade por mais algumas Terças-Feiras existe a frustração de ver a face espantada das pessoas junto a expressão “Não acredito que você está na prova final!” , as pessoas não imaginam o quanto essa cobrança é complicada para mim, mas de fato minha síndrome em agradar é culpada por estes comentários.

Talvez eu publique por aqui um dia o texto que eu escrevia enquanto pensava tudo isso que está exposto agora, mas neste momento percebam o que estão lendo como uma confissão que não visa elogios. Confissão de um pudor que, de acordo com a minha já conhecida opinião paradoxal, é pejorativamente necessário. Isto porque ao mesmo tempo em que eu penso ficar limitado pela minha covardia textual, ela me deixa aliviado de não criar inimizades através do que escrevo.

Leandro Sá, 22 anos, confessando aqui minha admiração aos corajosos textuais.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A "vida real" invade tela.


Nos últimos dez anos assistimos a televisão brasileira ser dominada por reality shows. Neste período acompanhamos o surgimento das mais diversas modalidades desse tipo de atração televisiva, desde vertentes rurais até empresariais. Contudo, apesar da ampla quantidade de programas neste estilo, eles não são uma unanimidade, sendo também criticados pela parcela, que se julga, mais culta da sociedade.
As pessoas que atacam os realitys apontam como seus principais defeitos, a superficialidade e consequentemente a alienação causada por eles. Para os mais questionadores, este estilo de programa não gera pensamento crítico em seus telespectadores. Por outro lado os defensores dizem que é possível entender melhor o comportamento humano através dos realitys e que os programas têm até mesmo um fundo antropológico, uma vez que expõem diversas culturas.
Já demonstrei várias vezes que sou uma pessoa avessa a extremismos. Consigo visualizar pontos aprováveis e discordáveis nas duas linhas de raciocínio. Realmente a televisão hoje sofre um colapso destes programas, convivemos com um número exagerado deles. O lamentável é a falta de comprometimento dos produtores que, na maioria absoluta das vezes, não estão preoucupados com a qualidade dando foco exclusivamente aos números de faturamento gerados pela audiência que pode conseguir aquela atração. Confesso ter acompanhado algumas edições do "Big Brother Brasil" (inclusive a última) e que, vejo, aleatoriamente, trechos de "A Fazenda" e não tenho vergonha alguma de admitir isso, porque a alienação não está no que você assiste, uma novela, um ídolo,ou a falta de boas leituras, por exemplo, podem te levar a ela se você se permitir. A questão é que a maior parte destes programas visam o entretenimento e somente assim devem ser encarados. Buscar crescimento intelectual em "No limite" é uma total falta de discernimento.
Não podemos delimitar reality shows apenas a programas que prendem pessoas numa casa com o único objetivo de acumuular dinheiro. Também temos programas como "O Aprendiz", que considero ao mesmo tempo agradável e construtivo, o melhor reality show da televisão brasileira atualmente e o pedagógico "Super Nanny" que, mesmo com algumas inconsistências, eu ainda considero proveitoso em alguns pontos.
Enfim, espero que tenha ficado claro que não sou nenhum defensor ferrenho dos realitys, mas também não faço o estilo pseudo-intectual-que-nega-tudo-que-pertence-a-cultura-de-massa. O ser-humano é naturalmente curioso e estes programas vêm suprir a necessidade de algo "real" (ainda que seja uma realidade manipulada) que as pessoas venham a sentir falta na televisão. Concordo que, dependendo da intensidade com que é assistido e a importância que lhes é dada os programas são prejudiciais sim, todavia esta não é uma característica exclusiva de reality shows, sendo a alienção causada não necessariamente pelos programas mas pela forma como ele é encarado pelas pessoas.
Leandro Sá, 22 anos.Feliz por, mesmo com todos os impecílios, completar 1 ano de blog.

sábado, 18 de setembro de 2010

Alguém tem que falar!


"Não espere, levante
Sempre vale a pena bradar
É hora
Alguém tem que falar"

Pitty


Estamos próximos de mais uma eleição e, ao que parece, as pessoas estão pouco preocupadas, com quem vai representá-las politicamente. Sei que nesse momento mais da metade dos leitores já desistiu deste texto devido ao tema que é repelido por grande parte dos brasileiros. Falar sobre política requer certo cuidado, já que não pretendo que o post soe como uma lição de moral, e sim um reflexão, nem como uma defesa das minhas convicções partidárias, mas como já assumi o risco vamos ao que realmente interessa.

O grande problema que eu percebo em relação ao posicionamento político da população brasileira é que a sua maioria prefere manter um pensamento a margem dos acontecimentos que envolvem nossos governantes (e consequentemente a nós mesmos). Escândalos que causam extremo impacto sobre a vida de todos, são incompreendidos e até, muitas vezes, ignorados pela maioria absoluta das pessoas, que prefere viver na ignorância a tomar conhecimento dos fatos importantes que permeiam o país. A esse mal chamado alienação há quem culpe a imprensa, há também quem culpe os próprios políticos, eu culpo a falta de interesse por parte das pessoas na defesa de seus direitos. Não podemos esquecer o quão confortável é a alienação, já que como reforça o escritor inglês Thomas Grace: “Onde a ignorância é felicidade, é loucura ser sábio.”, ou seja, enquanto o cidadão vive coberto pelo manto do “não saber” sua felicidade estará protegida.

Fico então a imaginar a época em que a ditadura era a grande mandante do nosso país. A juventude que viveu este período demonstrava anseios de liberdade e, sofreu, incomparavelmente, mais represálias que a contemporânea, a ponto de autores como Chico Buarque e Gilberto Gil precisarem camuflar suas mensagens contra o regime para que suas músicas não fossem censuradas. Sendo assim, chegamos uma ideia de que política não se resume a votos na eleição. Estamos falando de algo bem mais abrangente que diz respeito a busca de seus direitos,inclusive o de se expressar. Vemos também que a juventude que teve suas ideias controladas demonstrou um grau muito mais alto de politização que a atual em que este tipo de liberdade não precisa mais ser reivindicada. Identificando essa apatia política dos dias de hoje a cantora Pitty incluiu em seu último álbum (Chiaroscuro – 2009) uma música chamada “Todos estão Mudos” (título que faz clara referência intertextual a “Todos estão Surdos” de Roberto Carlos). Na canção a baiana solta frases como : “Não parece haver mais motivos/Ou coragem pra botar a cara pra bater” e “Há quem diga que isso é velho/Tanta gente sem fé num novo lar/Mas existe o bom combate/É não desistir sem tentar” questionando a ausência de luta, não só da juventude, mas da população em geral.

Isto posto muitos me chamarão de utópico, ou demagogo, aceito o primeiro adjetivo e recuso o segundo isto porque realmente admito possuir um perfil sonhador, de alguém que realmente acredita que ainda há jeito, ao menos, de melhorar a organização política de nosso país. Por isso percebo a necessidade do Brasil adotar o voto facultativo, já que assim,apesar de termos um número bem menor de votantes, conseguiremos uma concentração de votos dada por eleitores conscientes. Admito que ainda percebo a necessidade de me politizar mais, todavia acredito estar assimilando conceitos fundamentais para este ato. É o momento de rompermos com o discurso comodista que diz que a população não se interessa por política pelo fato de não haver uma melhora no panorama parlamentar. Este pensamento gera um ciclo vicioso, visto que a melhora não ocorre ,afinal, por haver esta falta de interesse da população para com a política.



Leandro Sá, 22 anos. Ainda não ciente sobre todos os meus votos, mas ciente de quem não irá ganhá-los.

sábado, 28 de agosto de 2010

Construindo laços



Em uma de suas mais belas composições, o genial, Tom Jobim nos brinda com uma, das que eu considero, mais célebres frases da Música Popular Brasileira: “É impossível ser feliz sozinho...”. Por mais banal que a reflexão feita pelo compositor possa parecer, a realidade é que o ser humano tem realmente a necessidade de se relacionar com outrem das mais variadas formas, sendo a mais abrangente destas a amizade. Ela que é tão procurada ao longo da vida e, por alguns, tão desmerecida é o tema da vez no Miscelânea.

O que eu considero fator definitivo para estabelecer os mais diversos tipos de amizade é o nível de comunicatividade de cada um. Ao fazer uma autoanalise percebo que sou uma pessoa com alto grau de necessidade de interação social, logo, acabo por fazer, naturalmente, muitas amizades nas mais diferentes vertentes. Uma delas constitui um nível mais superficial,mas que com o tempo pode vir a se aprofundar, que eu resolvi nomear como: “amizade instantânea” e corresponde a situações em que, para mim, é inevitável não dialogar com alguém. Situações como filas longas e demoradas, por exemplo, são extremamente propícias para se estabelecer este tipo de amizade, já que, nesse caso as pessoas se unem na mesma indignação, ainda que seja só para passar o tempo. Tenho certeza que a maior parte dos leitores do blog agora já estabeleceram alguma amizade instantânea.

A propósito, o que mais me intriga em toda essa história, e o principal fator motivador para a criação desse post é a reflexão advinda da velocidade com a qual eu estabeleço laços de amizade com os outros ao meu redor. Basta uma simples afinidade como o mesmo gosto, musical, literário, ou qualquer outro que seja, para que a pessoa se transforme em um amigo de infância, aliás, nem sempre existem afinidades suficientes para isso, mas uma boa conversa pode vir a gerar algum tipo de estima. Os amigos que construí ao longo da vida devem estar lembrando, neste momento, da forma como nos conhecemos, na maior parte das vezes, despretensiosa, já que os melhores relacionamentos surgem da casualidade, e da rapidez com a qual nos tornamos confidentes.

Enfim, após essa reflexão, concluo que o tempo nunca foi um fator primordial para definir minhas amizades. Existem pessoas que medem os amigos que têm pelo tempo que os conhece, não que eu discorde,ou não valorize os amigos que tenho há mais tempo que, apesar da distância e, por vezes, da falta de contato, ainda contam com minha grande estima. Entretanto eu sigo um pensamento, que uso para encerrar o texto, de ninguém menos que o meu mestre maior nas letras Machado de Assis: "(...)Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos. (...)". Assino logo abaixo do Machado.

Leandro Sá, 22 anos, chegando a conclusão de que a amizade é muito mais fácil de viver que de escrever.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O palco do dia- a- dia


A observação descompromissada de fatos cotidianos sempre me leva a algumas reflexões. É extremamente instigante perceber, por exemplo, a quantidade de papéis que uma única pessoa consegue exercer ao longo de sua convivência com os grupos sociais aos quais pertence. Essa pode parecer uma discussão banal, mas eu acredito que nem sempre o que passa despercebido pelos nossos olhos é irrelevante.

A grande motivação para que este texto viesse à existência surgiu de dois acontecimentos que, para algumas pessoas, poderiam causar apenas um riso momentâneo e um breve comentário com um amigo, mas, como o blogueiro que sou, achei válido trazer o assunto para um post aqui no “Miscelânea”. Então sem mais delongas vou narrar os fatos. O primeiro ocorreu durante a minha ida ao trabalho em que três meninas adolescentes me pararam a fim de fazer uma pergunta que, sinceramente, nem me lembro qual era, mas o que realmente me marcou dessa breve conversa foi um “Obrigado tio” dado como agradecimento pela resposta. “Tio eu!?” Elas poderiam ter me agradecido dizendo “Valeu Amigo!” ou “Obrigado Cara”, e confesso que iria critica-las mentalmente pelo exagero de gírias mas tio foi um adjetivo que me deixou bem angustiado ao longo do dia. Justifiquei-o com o fato de eu estar, conforme citei, indo para o trabalho, e, por esta razão, trajar uma roupa social o que por si só já constrói uma imagem mais formal, entretanto essa foi uma justificativa usada apenas para um auto – convencimento de que elas não me remeteriam a tal perfil (de uma pessoa mais velha e formal) se eu estivesse de jeans e camiseta. Já o outro caso que inspirou o post ocorreu no meu próprio ambiente de trabalho em que, hoje, exerço a função de Instrutor o que, simplificando,é uma espécie de professor dentro da empresa que ensina procedimentos para novos funcionários entre outras atividades. Sendo assim na turma que estou treinando atualmente existe um rapaz que me chama de “senhor” e por mais que isso indique respeito da parte dele soa no mínimo esquisito ouvir alguém de 19 anos me tratando por um termo geralmente usado para se referir a pessoas bem mais velhas.

O que mais se destaca em todo esse assunto é que em ambos os casos eu não me identifico com a imagem gerada por mim para as outras pessoas, o que me leva a crer que vivemos numa sociedade “teatralizada” que impõe, para todos que estiverem inseridos nela, personagens. E para que fique claro não estou tratando, em momento algum, esta teatralização como algo negativo, esse processo é natural e comum a todos, logo você cria, naturalmente perfis para identificar outras pessoas, assim como você também é visto da mesma forma pelos demais.

Sei que não sou a primeira pessoa do mundo a utilizar uma metáfora comparando a vida às artes cênicas e que o assunto pode parecer clichê, mas resolvi aborda–lo porque geralmente as pessoas não refletem acerca dos papéis que estão exercendo e ao perceber que sou visto como o “Leandro Chefe”, o “Leandro Filho”, ou o “Leandro Amigo” achei válido trazer este assunto para o blog para que todos possam pensar acerca de quais os personagens tem interpretado ao longo de seus dias.


Leandro Sá, 22 anos, tentando ser o melhor ator nos espetáculos em que tenho me apresentado.

domingo, 27 de junho de 2010

O falso luto pelo rei do pop


A morte de Michael Jackson aconteceu há um ano e, desde então, tenho visto a mídia explorá- la de maneira extremamente oportunista. Pouco tempo antes do falecimento do cantor a imprensa o citava sempre como um insano, devido às suas excentricidades e, após o ocorrido, mudou totalmente o foco de suas reportagens da vida conturbada para a carreira brilhante de Jackson, a fim de lhe render “homenagens”.

É necessário esclarecer que não pretendo aqui adotar o mesmo discurso demagogo que tanto estou a criticar. Não sou um aficionado por Michael Jackson e nem pretendo defini- lo como um Deus em sua vida pessoal, mesmo porque não é esse o meu objetivo. Na verdade sempre tive uma grande admiração por ele, até porque Michael influenciou todas as gerações de artistas que posteriormente surgiram, inclusive a maior parte dos meus ídolos, logo não tem como ficar imune ao trabalho do rei.

O que realmente me incomoda em toda essa história é perceber o poder de manipulação da imprensa em relação ao comportamento das pessoas. De fato a cobertura de tudo que diz respeito a Michael Jackson sempre foi colossal, e com a sua morte não havia possibilidade de ser diferente. O fato gerou milhões de dólares para muitas pessoas e se tornou o acontecimento mais comentado pela mídia nas últimas décadas, superando até mesmo a divulgação do falecimento do rei do rock Elvis Presley, óbvio que isto se deve à quantidade de meios de comunicação existentes atualmente, mas também não tira o mérito de Michael que teve a imagem alterada de louco à, novamente, ídolo. É inevitável que todos estes fatores acabassem por causar na sociedade grande curiosidade e interesse pelo trabalho do cantor. Reflexo disso é que no último ano as pessoas que antes o viam como um desequilibrado baixam suas músicas, usam camisas com as suas fotos e fazem covers do popstar.

Essa situação me faz pensar quanto ao verdadeiro papel da mídia na construção de ideias e opiniões, além da assimilação cultural popular. Entretanto obviamente existem programas de intencionalidades diferentes. Por exemplo, de um lado temos o “Fantástico” da Rede Globo (que em termos de notícias musicais e qualidade de entrevistas com cantores, cantoras e bandas internacionais não faz, em momento algum, jus ao seu nome) que nos últimos anos antes da morte de Michael o tratou como uma chacota viva. O programa é um exemplo de veículo de imprensa que alterou sua forma de falar do cantor juntamente com outros que hoje resolvem relembrar a carreira do popstar. O que me pergunto é por que não fizeram isso enquanto ele estava ainda vivo? A resposta é bem simples, não era lucrativo falar do Michael de outra maneira naquele momento.Do outro lado temos programas como os da MTV em que Michael, apesar das polêmicas, sempre foi citado como o ícone que realmente é.

Confesso que posso estar sendo muito radical. Tenho a consciência de que, paradoxalmente, o fim da vida de Michael causou a ressurreição da sua carreira. Hoje o cantor tem mais fãs do que em seus últimos dez anos de vida, mas a reflexão que fica é até que ponto é verdadeiro o luto de certa parte da imprensa e de algumas pessoas pela morte do rei do pop?


Leandro Sá, 22 anos, adorando a série de especiais que a MTV está passando sobre o Michael, mas eu já achava ele legal antes do Zeca Camargo falar isso.

sábado, 29 de maio de 2010

Declarações de um Saudosista


“(...)Oh ! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!(...)”
Casimiro de Abreu (1837-1860) –“ Meus Oito Anos”


Utilizei o poema “Meus Oito Anos” como inspiração para introduzir este post porque pretendo admitir que, assim como Casimiro, também sou uma pessoa saudosista, não com a mesma melancolia dos poetas românticos do século XIX, mas com uma nostalgia reflexiva que abrange, totalmente, âmbitos distintos da minha realidade. Desde a minha vida escolar/acadêmica até o meu gosto musical todos estão impregnados de um saudosismo facilmente perceptível.

Uma das maneiras através das quais identifico esta característica é a minha maneira de encarar o curso universitário que faço. Enquanto estudante de Letras sinto muitas saudades das minhas aulas de língua portuguesa e de literatura do Ensino Médio e identifico o quanto elas foram importantes para construir o aluno que sou atualmente. Também sinto muita falta das disciplinas de arte que ampliaram grande parte da minha bagagem cultural. O que me tranqüiliza é saber que hoje estou certo do meu futuro profissional e do que pretendo seguir, mas como todo nostálgico é natural que eu sinta saudades dos tempos de estudo descompromissado e do espírito adolescente que só a escola traz.

Outra forma de manifestação do meu saudosismo está nas minhas preferências musicais. Ao analisar a lista dos meus cantores e cantoras favoritos percebe – se que a maioria absoluta deles têm, no mínimo, 5 anos carreira (isso em alguns casos isolados já que a grande maior parte deles já passou dos 10 anos), o que me leva a crer que a maior parte dos ídolos são escolhidos durante a adolescência (apesar desta não ser a discussão em voga) , e, mais importante, indica uma grande resistência por minha parte em assimilar alguns dos artistas surgidos nos últimos anos. Por exemplo, tenho uma forte aversão à esses movimentos “emo” e dessas bandas chamadas de “happy-rock” e até me sinto decepcionado em ver os adolescentes cultuando artistas como “Justin Bieber” e "High School Musical", não porque tenho algo diretamente contra estes, mas sim porque cresci ouvindo “Britney Spears” e “Justin Timberlake”, por exemplo, que, já faziam tudo que os novos fazem de maneira, à meu ver, muito superior. Ou seja, tudo se resume à uma questão de geração, os artistas do meu tempo de adolescência são muito mais fáceis de se aceitar,por mim, do que os que surgem posteriormente por mais que eu também saiba reconhecer o valor de alguns artistas e bandas mais novos.

Além dos âmbitos citados existe outro em que o meu saudosismo, e provavelmente o de todos que estão lendo, aparece claramente, é o das relações pessoais. É natural que ao longo da vida você encontre pessoas com as quais se identifique e estabeleça com elas os mais diversos tipos de relacionamento. O grande problema é que é impossível ter todas as pessoas importantes que passam pela sua vida perto de você para sempre e é neste momento que aparece a saudade e a valorização dos bons momentos passados na vida.

Enfim não é fácil se assumir saudosista, visto que, a maioria das pessoas identificadas desta maneira têm fama de incomodas e desagradáveis. Todavia o que tentei demonstrar aqui é que ter saudades do passado não é necessariamente algo prejudicial. O grande problema surge quando se vive apenas de recordações. Então sejamos saudosistas se isso nos faz bem, mas moderadamente para que façamos com que o presente também seja digno de saudades.

Leandro Sá, 22 anos, afogado entre apostilas, provas e trabalhos e ciente de que, como todo bom saudosista, sentirei saudades disso algum dia.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Síndrome do Underground


"Eu gostava mais da Lady Gaga quando ela ainda não era conhecida por tanta gente.”, “ Antes só eu e alguns amigos líamos Clarice Lispector, hoje qualquer um se acha intelectual porque leu um livro dela.”, “Essa série perdeu o conteúdo agora que está atingindo um número tão grande de pessoas.” . Estas e outras afirmações do gênero já foram ouvidas, e confesso que também ditas, por mim e por parte dos amigos. Ao pensar nelas identifico uma característica em comum, e é exatamente esse o assunto que me motiva a escrever este texto o “semi-distúrbio” que eu acabei por intitular, por falta de um nome mais adequado, como síndrome do underground.Underground( que significa subterrâneo em inglês) é uma palavra muito utilizada pelos roqueiros para designar bandas que não fazem, ainda, parte do mainstream (circuito de artistas conhecidos pela mídia e grande público) aqui eu uso a palavra para me referir não só a bandas mas a artistas de todos os gêneros, programas e elementos de mídia de uma maneira geral.

A síndrome em questão atinge grande parte das pessoas que são muito aficcionadas por algo, ou alguém, e sentem o paradoxal desejo de que ele seja admirado por todos e, ao mesmo tempo, desconhecido do grande público o que acaba se tornando bem confuso, visto que, para a maioria das pessoas o admirador é aquele que quer ver seu objeto de admiração conhecido por todos, estendendo esse conhecimento a outras pessoas.

Boa parte dessa rejeição, por parte das pessoas que possuem esta síndrome em multiplicar sua admiração, deve-se a alguns fatores principais. O primeiro é certo sentimento de possessividade que elas acabam adquirindo, inconscientemente, em relação a seus “ídolos” já que se sentem quase que descobridores dos mesmos. O segundo, e me atrevo a dizer que o principal, é a verdadeira aversão que muitas pessoas tem à tudo que faz parte do que seria a cultura popular. Conheço gente, inclusive, que já deixou de gostar de suas bandas favoritas só porque elas se tornaram conhecidas, e assim é criada uma imagem negativa de tudo o que se torna parte da massa. Renegar a cultura popular neste caso é ineficaz, pois a partir do momento em que o que é underground se torna conhecido o único fator, a principio, mudado é a proporção que ele vai alcançar sendo assim desnecessário que se tenha uma visão diferente da anterior em relação ao que se admira.

Apesar destes fatores eu não acredito que a síndrome seja algo totalmente prejudicial pois também é válido ressaltar o fato de que vivemos num mundo em que as pessoas buscam parecer, a todo momento, originais, fugindo assim de qualquer característica que as faça sentir mais um na multidão e para isso buscam usar roupas diferentes, frequentar lugares nem sempre convencionais, ouvir músicas de artistas não tão conhecidos e diversas outras artimanhas que obviamente não são únicas mas utilizadas por um público bem mais restrito . Daí quando estes “truques” deixam de ser exclusivos de uma pequena quantidade de pessoas, acontece o conflito que pode vir a se tornar a síndrome.

Então depois de muito definir a síndrome do underground chego à conclusão de que eu sofro dos efeitos, ainda que leves, dela. Admito que me dá certa satisfação ler livros de autores, clássicos ou contemporâneos, que a maioria dos meus amigos nem sonha que existem, ouvir músicas de cantoras promissoras que ainda estão longe de tocar nas rádios e que um dia eu vou poder falar “ Eu conheci primeiro” , ou assistir aos programas culturais da TV Brasil que praticamente ninguém vê, e isso me faz bem.

Leandro Sá, 21 anos, admitindo que apesar de sofrer da síndrome do undreground também aproveito o que há de popular e comum no mundo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Britney e... a imprensa brasileira.


É de conhecimento da maioria dos leitores do blog que sou fã da Britney Spears, artista que eu acompanho desde os meus 12 anos de idade. Os que compactuam com esta admiração e que, assim como eu, costumam seguir atentamente os passos da princesa do pop de fato conhecem o tratamento que a nossa mídia vem dando à Britney ao longo dos seus 11 anos (e lá vai tempo) de carreira. E o objetivo aqui é discutir a conturbada relação entre a maior artista dos anos 00 e o que temos por imprensa brasileira.

Creio que seja importante esclarecer, para evitar possíveis interpretações que atribuam determinados argumentos a uma visão romantizada de fã, que não pretendo beatificar a Britney, visto que, como bom conhecedor da mesma, sei que não se trata de nenhum mártir, mas demonstrar como a nossa mídia, em grande parte das vezes, a massacra com argumentos ultrapassados e descabidos.

Britney Spears, em nível de contextualização, é a cantora que mais vendeu discos na década recém-terminada e, pelo que dizem boa parte dos veículos especializados em música (notem que não fui eu quem inventou essa definição), um dos maiores fenômenos surgidos no mundo da música. Exageros à parte de fato a cantora construiu um legado invejável e conseguiu milhões de admiradores que a seguem quase que religiosamente. Então por qual motivo jornais, revistas e programas de TV brasileiros tratam Britney como uma mera celebridade dessas que sem ter nada de positivo a oferecer para o público vivem de escândalos com o único propósito de chamar a atenção? Sei que neste ponto muitos dirão que seria essa uma clara definição da artista que estou aqui a defender mas é exatamente aí que eu quero chegar.

De fato a relação aqui exposta nunca foi das mais respeitosas e atingiu o auge da adversidade quando Britney teve seu, digamos, momento rebelde, ocorrido entre os anos de 2006 e 2007, período conturbado na vida da cantora no qual ela abusou deliberadamente de atitudes que a trouxeram uma imagem vexatória e indesejável para qualquer tipo de figura pública. A grande questão em torno de tudo isso é que apesar de ser impossível mudar o que já foi feito por ela houve algo que, praticamente, não foi divulgado em nosso país. Após toda a controvérsia causada por ela nos anos já citados Britney deu sua volta por cima em 2008 mostrando um comportamento totalmente contrário ao anterior, organizando, novamente, a sua vida e, consequentemente, a sua carreira de maneira inacreditável, principalmente aos olhos dos que já decretavam o fim da cantora, mas o que realmente me intriga é a cobertura medíocre que a imprensa brasileira deu a este fato.

Há muitos que me chamarão “antipatriota” por criticar apenas a imprensa brasileira e nem ao menos falar da internacional. Na verdade a grande diferença entre as publicações e programas brasileiros e os americanos ou europeus, por exemplo, é a questão da atualização. A atualização a qual me refiro é a que diz respeito ao compromisso com a informação passada ao público. Para ser mais claro aqui cabe um exemplo: Nos Estados Unidos milhares de tablóides se esbaldaram com as fotos de uma Britney decadente o que ajudou a alavancar as vendas de muitos deles. Entretanto em 2008 revistas como a “People” e a “Rollingstone” foram as primeiras a dar destaque a uma artista que voltava ao patamar de superstar, conquistado por seus próprios méritos. Enquanto aqui no Brasil programas conceituados como o “Fantástico” da Rede Globo, que possui altos índices de audiência, aproveitou ao máximo a fase ruim de Britney se baseando, inclusive, em reportagens de jornais de conteúdo duvidoso como o “The Sun”, famoso por dar notícias infundadas sobre celebridades. E no período em que o mundo celebrava o retorno da princesa do pop, o programa transmitia seu novo videoclipe adjetivando-a como “rainha dos escândalos” título divergente da Britney de então propagando assim uma imagem já anacronizada no exterior para milhões de brasileiros. Porém não dá para generalizar neste quesito, já que, apesar de poucos, houveram veículos de mídia comprometidos com as informações sobre o retorno de Britney e estes são a MTV Brasil e programas como o “Leitura Dinâmica” da Rede TV que, apesar de não disporem do aparato Global vêm transmitindo notícias coerentes sobre a cantora. E, por mais que pareça ultrapassado falar deste período é fato que certos equívocos rendem interpretações pejorativas sobre a Britney até os dias de hoje por parte de pessoas, que diferente dos admiradores de música de um modo geral, se baseiam nas informações dadas por uma mídia descompromissada com o atual.

Enfim toda esta reflexão acerca da relação Britney X Imprensa brasileira nos remete a infeliz realidade de que a nossa mídia está atrelada a um passado negativo, porém rentável, o que nos leva a pensar até que ponto o que lemos ou vemos é real ou aumentado (inventado), dúvida que facilmente pode ser solucionada basta saber onde e como encontrar a informação, e aos que estão interessados em conhecer a verdadeira imagem da Britney sem qualquer tipo de possibilidade de conotação duvidosa basta assistir ao documentário “For the Record” grande responsável por restaurar a imagem da cantora junto ao público.

Leandro Sá, 21 anos. Feliz por estar de volta com o blog e pedindo desculpas pela ausência prolongada que enfim acabou.