sexta-feira, 26 de abril de 2013

Mas você é tão jovem



Toda vez que me assumo uma pessoa nostálgica, declaro meu amor pela arte ou digo não ter mais paciência para passar a noite dentro de uma boate existe uma frase que, em geral, é dita automaticamente pelo interlocutor que ouve a declaração: “mas você é tão jovem”.

O problema desse tipo de comentário é o fato de ele carregar a concepção da existência de uma única maneira pela qual é possível manifestar juventude. Sei, por exemplo, que o saudosismo é atribuído a pessoas mais velhas pelo óbvio motivo de estarmos falando de quem, na teoria, tem mais coisas para sentir falta. Contudo, me irrita profundamente a maneira como a nossa sociedade, viciada em criar e disseminar estereótipos, constrói a ideia do que é ser jovem ou do que é ser velho.

A minha presença frequente em centros culturais é descrita por alguns amigos como “coisa de velho”. Em relação a saídas noturnas, a situação fica ainda mais complicada. Tive meu período baladeiro mas ele já acabou faz alguns anos. E toda vez que manifesto certa resistência a ir para uma boate escuto a frase título da crônica ou alguma de suas variações.

Enfim, talvez eu seja mesmo o cara chato nesse ponto e, por isso, esteja aqui criticando associações que muita gente se acostumou a não questionar. Acredito ser importante elucidar o fato de a reflexão toda girar em torno da falsa imagem construída sobre o que seria próprio para determinada idade. Sendo essa noção prejudicial para um jovem que escute Cauby Peixoto (não é o meu caso, mas poderia ser) ou para um idoso que queira curtir um show de heavy metal. E, portanto, eu me permito atitudes consideradas velhas agora por saber que também vou me dar o direito a atitudes jovens aos setenta.

Leandro Sá, 25 anos, acreditando que toda forma de juventude (ou de velhice) vale a pena.

sábado, 14 de abril de 2012

Os mesmos direitos com os mesmos nomes

Ontem, vi o vídeo de uma campanha chamada “Casamento Civil Igualitário”. Trata-se da iniciativa, liderada pelo Deputado Federal Jean Wyllys, que tem como objetivo aprovar um projeto de emenda constitucional que garanta aos casais homossexuais o direito à união civil da mesma forma que casais heterossexuais.

Como argumento para tal aprovação a campanha se fundamenta na Declaração dos Direitos Humanos que garante, na teoria, igualdade de direito entre todos os cidadãos. Infelizmente, sabemos que na prática a situação se inverte.

O que me intriga na discussão é o fato de que ninguém até hoje me apresentou um argumento plausível para que não seja legitimada a união civil homoafetiva. Na verdade, percebo uma grande incoerência nas pessoas que se dizem contrárias à aprovação da emenda, pois, ela não interfere negativamente na vida de ninguém. Digo isso porque estou me referindo a um direito civil e vejo muita gente o confundindo com um direito religioso. Já ouvi pessoas, inclusive, que temem a aprovação dizendo que as igrejas serão obrigadas a realizar cerimônias de casamento contrárias às suas normas comportamentais. Todavia, se analisarmos de maneira racional perceberemos que nenhum gay está reivindicando que alguém mude sua fé, apenas pede-se para ter igualdade de direitos perante a lei, e vale ressaltar que o Brasil é um país laico.

O projeto tem sua visibilidade ampliada com a contribuição massiva das classes artística, esportiva e política que são importantes para a adesão popular, por serem formadoras de opinião. Temos uma diversidade de apoiadores, entre hétero e homossexuais, que participaram por meio de vídeos, além de opiniões por meio de frases, que fundamentam apoio à causa. Entre os adeptos temos alguns já esperados e outros pouco previsíveis: Preta Gil, Zélia Duncan, Romário, MV Bill, Mariana Ximenes, Ney Mato Grosso, Guta Stresser, Chico Buarque, Luís Fernando Veríssimo, Sandy, Lula e diversos outros.

Sempre fui fã do Jean e esse projeto só faz aumentar a minha admiração por ele. Acredito que só é possível mudar mentalidades quando se leva as pessoas à refletir e tenho certeza que esse é exatamente o objetivo da campanha. É difícil viver numa sociedade demagoga que ao mesmo tempo diz não ter preconceito e não lhe dá os mesmos direitos que os demais. E como diz uma das frases que achei mais interessantes no site, dita por Whoopi Goldberg “Se você não aprova o casamento gay, então não case com um gay”, e o respeite – complemento meu.

Leandro Sá, 23 anos. Eu sou a favor do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.

Segue o site da campanha: http://casamentociviligualitario.com.br/

domingo, 25 de dezembro de 2011

Sim, é possível!

Essa semana, presenciei um dos momentos mais importantes e emocionantes da minha vida. Meus pais completaram vinte e cinco anos de casamento, comemorados com uma bela cerimônia de Bodas de Prata. Isso me remeteu a um dos assuntos que quero abordar por aqui faz tempo: a descrença no amor romântico.

Vivemos hoje uma época em que as relações se tornam cada vez mais efêmeras. Em tempos de redes sociais vemos a multiplicação de manifestações anti-seriedade no relacionamento. Não que queira eu vilanizar quem não nasceu para a monogamia, entretanto desmerecer a possibilidade de que alguém possa viver somente com a mesma pessoa por anos, para um avesso a generalizações como eu, soa como ignorância.

É claro que quando me refiro a namoro/noivado/casamento, ou qualquer outro compromisso que se aproxime destas definições, não falo dos clichês midiáticos encontrados em alguns filmes e (todas as) novelas. O “felizes para sempre” só existe na ficção e se relacionar exige tolerância. Pois, para construir algum futuro com outra pessoa é necessário ceder em vários momentos. Apesar disso, a idealização de romance propagada pela mídia está tão impregnada no imaginário popular que as pessoas se acovardam ao primeiro sinal de problema e preferem voltar a solteirice.

Há quem diga que quem tem a necessidade de ficar com várias pessoas, sem apego sentimental, é no fundo infeliz. Eu não compartilho tal afirmativa, porque tenho vários amigos satisfeitos com esse estilo de vida. Não faço parte do grupo que julga pejorativamente quem quer se relacionar com cinco, dez ou quinze pessoas simultaneamente, contudo ainda me dou o direito de acreditar, enfim, na possibilidade de ser feliz com apenas uma, por mais que me considerem careta.

Leandro Sá, 23 anos, permitindo-me ser piegas por algumas linhas.

domingo, 2 de outubro de 2011

Eu Fui

Hoje termina o Rock in Rio. O maior festival de música do Brasil não acontecia a dez anos em sua terra natal e, por esse e outros motivos, levou um público de cem mil pessoas diariamente em suas sete noites. A multiplicidade musical é um dos maiores méritos do festival que recebeu artistas diversos (de Katy Perry a Metallica) e, mesmo sendo criticado por essa diversidade, que contrasta com o título, cumpriu seu papel de reunião para os amantes de música.

Como muitos amigos meus comprei meus ingressos em Maio. Escolhi os dois dias que considerei mais concentravam artistas que fazem parte da minha vida musicalmente falando. Sendo assim fui aos dias 23 de Setembro e 01 de Outubro. A experiência de estar no Rock in Rio é surreal para mim que comecei a apreciar música verdadeiramente a partir da terceira edição do festival em 2001.


Tudo contribui para a perfeição dos dias passados lá dentro. Quem gosta de adrenalina aproveitou atrações como a Tirolesa e a Montanha Russa (ok, as filas eram gigantescas, mas teve muita gente disposta a esperar e que não se arrependeu de ficar cerca de duas horas aguardando). Mas para mim o melhor entretenimento pré-shows do Palco Mundo foi o Palco Sunset que fez encontros incríveis e emocionantes , afinal assistir Sandra de Sá e Bebel Gilberto cantando Cazuza juntas é algo que dificilmente não encanta.


Claro que sendo o Palco Mundo o local dos principais acontecimentos do evento é de lá que guardo as maiores recordações. Vi alguns dos melhores artistas nacionais como Paralamas do Sucesso e Titãs tocando juntos, passando por Frejat cantando as músicas da carreira solo e algumas do Barão Vermelho, até o Skank que tem um domínio de palco animador. Os internacionais também foram inesquecíveis. Katy Perry dominou o público com seu carisma e jeito provocativo, Rihanna nos irritou com seu atraso, todavia fez um show pelo qual valeu a pena esperar, Maroon 5 que impregnou a Cidade do Rock de hits, e finalmente o show que eu esperava assistir há anos Coldplay ao vivo. Sobre este só tenho a dizer que vê-los no palco é uma experiência transcendental. Logo, valeu cada centavo gasto para o festival.


Numa conversa que tive com um amigo sobre a elasticidade do termo “superficial” ele disse considerar ir a um show algo fútil. Acredito que os freqüentadores da Cidade do Rock não concordem com o infeliz comentário do meu amigo. Isto porque existe uma energia que a Multishow, a Globo e o You Tube não passam, e que só sentiu quem entrou lá. Essa energia longe de ser fútil é necessária para qualquer apaixonado por música.



Leandro Sá, 23 anos. Ainda inebriado por ter assistido o Coldplay ao vivo a menos de 24 horas.

sábado, 17 de setembro de 2011

Apenas racionais ?


Essa semana vi uma situação que me acarretou diversas reflexões. Durante uma viagem de trem três estudantes de aproximadamente 12 anos estavam rindo de um de seus colegas (que não estava com eles no momento) por este ter chorado em público após sua namorada terminar o relacionamento. Tal ocorrido corrido prova, ao menos para mim, o quanto é real uma certeza que tenho há tempos: somos treinados durante toda a nossa vida para esconder, ou no mínimo disfarçar em determinados momentos, nossa faceta mais sentimental. Não falo de um sentimentalismo piegas, mas da sensibilidade comum a todo ser humano.

O deboche que presenciei feito sobre uma demonstração de fragilidade é muito mais comum do que se imagina e, teorizo eu, deve-se a insegurança que as pessoas têm e preferem disfarçar ressaltando as “falhas” dos demais. Ouvimos sempre sobre a necessidade de sermos fortes em todas as situações que acabamos por negar nossa insegurança e atacar qualquer vestígio dela apresentado por outrem.

O pior é que considero algumas pessoas extremistas em relação a busca por auto-afirmação. Conheço gente que tem a necessidade de ridicularizar os outros a todo o momento com intuito, ainda que inconsciente, de se sentir melhor consigo mesmo. Assim como os pit-boys que precisam agredir fisicamente outras pessoas para externar sua insegurança.

A situação é muito mais complexa quando se trata de representantes do sexo masculino. Desde criança a frase “homem não chora” se torna conhecida junto com todo o conceito de “virilidade” que lhe está embutido. A partir dessa assimilação se torna vergonhosa qualquer ação que contraponha o conceito imposto de masculinidade. Sendo assim não se predispor a uma briga física, chorar assistindo a um filme ou não conhecer a colocação da tabela do campeonato de futebol são “inadmissíveis” para um homem. E assim criamos um esteriótipo machista que, para o bem das mulheres, está a cada dia menos real.

O ser humano não é auto-suficiente, buscamos a todo o momento afirmação perante a nós mesmos e a sociedade em que vivemos. Acredito que não devemos ser pessoas passivas, mas não podemos esquecer também que não somos apenas racionais e que, muitas vezes, nosso lado emocional também é muito relevante. E se supervalorizamos apenas um desses pólos, temos sérios problemas.

Leandro Sá, 23 anos, escrevendo pouco aqui no blog atualmente devido a minha monografia.