Toda vez que me
assumo uma pessoa nostálgica, declaro meu amor pela arte ou digo não ter mais
paciência para passar a noite dentro de uma boate existe uma frase que, em
geral, é dita automaticamente pelo interlocutor que ouve a declaração: “mas
você é tão jovem”.
O problema desse tipo
de comentário é o fato de ele carregar a concepção da existência de uma única
maneira pela qual é possível manifestar juventude. Sei, por exemplo, que o
saudosismo é atribuído a pessoas mais velhas pelo óbvio motivo de estarmos
falando de quem, na teoria, tem mais coisas para sentir falta. Contudo, me
irrita profundamente a maneira como a nossa sociedade, viciada em criar e
disseminar estereótipos, constrói a ideia do que é ser jovem ou do que é ser
velho.
A minha presença
frequente em centros culturais é descrita por alguns amigos como “coisa de
velho”. Em relação a saídas noturnas, a situação fica ainda mais complicada.
Tive meu período baladeiro mas ele já acabou faz alguns anos. E toda vez que
manifesto certa resistência a ir para uma boate escuto a frase título da
crônica ou alguma de suas variações.
Enfim, talvez eu seja
mesmo o cara chato nesse ponto e, por isso, esteja aqui criticando associações que
muita gente se acostumou a não questionar. Acredito ser importante
elucidar o fato de a reflexão toda girar em torno da falsa imagem construída sobre o que
seria próprio para determinada idade. Sendo essa noção prejudicial para um
jovem que escute Cauby Peixoto (não é o meu caso, mas poderia ser) ou para um idoso que
queira curtir um show de heavy metal. E, portanto, eu me permito atitudes consideradas velhas agora por saber que também vou me dar o direito a atitudes jovens aos setenta.
Leandro Sá, 25 anos,
acreditando que toda forma de juventude (ou de velhice) vale a pena.