sábado, 28 de maio de 2011

Meu amor por ela


Não tem jeito. O assunto que mais comento com meus amigos amantes de música é o Rock in Rio. De volta ao Brasil depois de 10 anos o festival causou uma síncope coletiva durante a venda de ingressos e, apesar das críticas que tem recebido (inclusive minhas) sobre a escalação das atrações e a distribuição de artistas e bandas por dia, já é um sucesso garantido.

A música é uma das grandes companheiras do homem há muito tempo. Dificilmente ela não está inserida entre as preferências de qualquer pessoa. Seja apenas para ouvir no trânsito ou como formação acadêmica ela abrange tantos assuntos quanto seu compositor queira tratar. Desde uma banal ordenação de passos de dança até forte crítica ideológica a um sistema de governo tudo cabe neste ambiente cercado por ritmos e letras.

A minha relação com ela também é antiga (ainda peguei o final da época dos LPs), todavia foi em 2001 assistindo ao Rock in Rio pela TV que me dei conta do quanto é prazeroso ter ídolos e acompanhá-los. Minha forma de consumir música então se transformou. Sou do tipo de pessoa que gosta de comprar o CD físico com direito a encarte e sinto que assim estou fazendo parte da construção de uma carreira. Uma pena isso ser tão desvalorizado na contemporaneidade já permeada pela música digital. Atualmente vivemos numa sociedade em que tudo acaba por se superficializar, inclusive o consumo de música. Não sou tão retrógrado a ponto de não baixar nada lançado por artistas que admiro e considerar todos aqueles que fazem downloads traidores ou menos fãs, ao contrário minha ansiedade não permite que eu não baixe um novo disco que "vaza" na internet antes de seu lançamento oficial, porém ainda gosto de ter os álbuns de quem admiro na minha coleção.

De fato ao menos 80% dos meus ídolos musicais vieram dos anos em que eu era adolescente, período em que nos construímos, entre todos os aspectos, também musicalmente. Ainda por isso considero-a responsável por metade das minhas amizades. É engraçado lembrar a quantidade de pessoas que eu me aproximei devido a conversas sobre um lançamento de videoclipe ou sobre uma decepção ao ouvir determinado CD. Talvez por não gostar de futebol (paixão de 99% dos homens brasileiros) consegui subverter esse apreço a times e jogadores na minha obsessão por música.

Hoje, ainda que tardiamente, estou superando uma frustração que me acompanha há exatamente 10 anos que é não ter ido fisicamente ao Rock in Rio 3, tão responsável pela minha identidade musical. Tenho certeza que ao entrar na cidade do rock em Setembro (e Outubro, pois eu não conseguiria ir ao festival apenas um dia) reviverei enfim o momento em que o Leandro de 13 anos começou a se tornar o apreciador de música que é hoje e, finalmente serei curado, em parte, desse trauma adolescente.

Leandro Sá, 23 anos, contando os dias para ver Coldplay, Katy Perry, Frejat, Titãs, Rihanna, Skank, Paralamas e uma gama de artistas que admiro no maior festival de música do Brasil.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sim para a educação urbana


Conviver é uma das atividades cotidianas mais difíceis e com a qual muitas vezes temos problemas. Além das relações que somos convencionalmente obrigados a manter seja em casa, no trabalho, na faculdade ou em qualquer outro ambiente em que construímos afetividade e, ainda assim, temos nossas adversidades ainda temos o contato forçado travado nas ruas, nos transportes, nas bibliotecas, nas baladas e em inúmeros outros lugares em que existem pessoas por nós desconhecidas.

E é exatamente esse contato efêmero com desconhecidos que pretendo abordar. É curioso notar, a partir deste ponto, a quantidade de pessoas que carece de algo que aqui chamarei de educação urbana. São diversos tipos que aparentam não ter a mínima noção de respeito coletivo ou de discernimento lógico. Listarei aqui os principais representantes dessa praga social.

O primeiro que vem a minha mente quando abordo esse assunto é incomodo a qualquer pessoa que costume andar de ônibus, trem, metrô ou qualquer outro transporte coletivo. É claro que estou falando do ser odioso que faz total questão de deixar o seu celular no último volume exibindo a total potência do seu auto-falante para que todos ouçam suas músicas favoritas (que em geral se resumem a qualquer novidade que esteja na moda e de produção e qualidade duvidosos). Admiro os avanços tecnológicos e considero fantástico que eles estejam conseguindo atingir várias camadas sociais, mas acredito que junto a eles deve estar também o direito a não ouvir algo de que não gosto. Viva o fone de ouvido, tão renegado por essas pessoas.

Outros cidadãos que também merecem ser citados são os escandalosos. E quando falo deles me refiro às pessoas que expõem suas conversas, que até então pareciam particulares, no celular para todos devido ao seu altíssimo tom de voz, dos grupos que consideram qualquer algazarra desordenada um exemplo de bom humor e, por isso, incomodam a todos que estão a seu redor com piadas que não têm a menor graça para quem não está inserido em seu contexto. E para complementar compactuam com a intromissão na conversa alheia algo extremamente condenável nas regras de bom convívio, em especial se você não conhece a pessoa que está tendo seu assunto invadido.

Ainda entre os grandes ofensores da convivência coletiva temos os que pretendem me matar de alguma doença do pulmão. Alguns fumantes precisam entender que nem todos apreciam aspirar a sua fumaça e que existem ambientes em que acender um cigarro pode não ser agradável a todos. Sim, tenho muitos amigos fumantes que sabem se comportar e vocês não estão inseridos nesse parágrafo. Mas de fato existe muita gente que acha que o mundo ama ficar com odor de cinzeiro.

Não sou politicamente correto 24 horas por dia, porém se existe algo que me incomoda profundamente é ver alguém jogando seu lixo em qualquer lugar que não seja próprio para tal. Não parece haver preocupação por parte de alguns com suas atitudes ambientais e seu impacto na própria realidade em que vivem. Sem querer bancar o ambientalista já vi pesquisas em que pessoas que visitam o Brasil informam qual foi o aspecto menos agradável do país e ao responderem essa pergunta a maior parte deles informa que é a sujeira nas ruas. Ainda sonho com o dia em que ninguém jogará lixo no chão e teremos um ambiente muito mais limpo.

Sei que muitos se identificaram com o incomodo que lhes é causado por esses personagens presentes em nosso dia-a-dia. Ainda que não queiramos, topamos sempre com cada um deles. De fato não há possibilidade de evitá-los e a cada dia parece que seu número se multiplica. Portanto se não podemos com eles... exercitemos nossa paciência.

Leandro Sá, 23 anos, ciente de que faltam muitos tipos a serem citados e preparando para, quem sabe um dia, a parte 2 dessa crônica.

domingo, 8 de maio de 2011

Quebra de protocolo



Se eu fosse candidato a algum cargo político, na minha plataforma com certeza faria alusão a algum projeto de lei que extinguisse definitivamente da face da Terra duas das principais mazelas comportamentais humanas: a superficialidade e o moralismo. A primeira é responsável por uma violenta padronização estética e a segunda por uma estruturação comportamental que permeia o imaginário da sociedade de maneira silenciosa e quase imperceptível para quem não tem o hábito de pensá-la.

Temos o script das nossas vidas pronto antes mesmo de chegarmos fisicamente ao mundo. Desde o choro ao nascer, passando pela boa conduta na escola quando somos crianças, do casamento à vida reclusa quando ficamos mais velhos tudo é convenção social. Por isso falar de relações humanas é falar de padronização, que é até necessária para a manutenção de uma convivência coletiva harmoniosa (imaginem se não fosse convencionado que se apossar de bens alheios é algo errado o caos em que viveríamos). Todavia ela pode ser muitas vezes cruel com quem, por qualquer motivo, não se enquadra em algum ponto na normalização previamente determinada pela concordância silenciosa do certo e do errado.

O grande problema dessa homogeneidade social é quando ela torna as pessoas intolerantes a tudo o que fuja ao seu conceito sobre o que seria adequado. Um dos grandes males causados por essa intolerância é o tão comentado atualmente bullying. É triste ver se multiplicarem casos de agressão (física e verbal) dentro do ambiente escolar onde apenas o conhecimento e a integração deveriam ser buscados. E talvez o pior, é que crianças viram adultos e se crescem com essa visão de mundo se tornam os pitboys que de tempos em tempos temos notícias nos jornais.

A pasteurização social é responsável também por outro tipo de violência, essa aparentemente inofensiva. Trata-se da grave orientação das pessoas a seguirem sempre a mesma tendência e, por isso, as vemos com todo um visual quase idêntico. Usam-se as mesmas calças, os mesmos tênis, os mesmos cordões e assim cria-se um exército de alienados sem gosto pessoal que seguem apenas o que está “na moda”. Confesso que fico feliz toda vez que vejo uma mulher que assume seus cabelos cacheados enquanto vivemos a era da chapinha, considero isso quase que uma manifestação (inconsciente) anti-padrão. E essa orientação também rege as pessoas quanto ao que diz respeito à ditadura do corpo “perfeito”. Devido à propagação que é feita através da TV, de revistas, da internet e da infinidade de meios midiáticos as pessoas se sentem obrigadas a terem o corpo do galã ou da mocinha da novela das 8, caso contrário sentem que não conseguirão ser felizes e pior é quando acham correta a necessidade de todos fazerem o mesmo.

Em um de seus últimos singles a cantora “Pink” sugere um brinde a todos os que se sentem fora do que a sociedade julga como admirável. Na verdade eu considero necessário que tenhamos a consciência do quanto somos influenciados por essa pasteurização, mas temos também que saber o quanto ela prejudicial para, só assim, nos libertarmos dela. Fico decepcionado quando vejo as pessoas tomarem atitudes que são, perceptivelmente, avessas a sua ideologia só para terem aceitação e mais triste ainda quando vejo pessoas que não possuem ideologia alguma e simplesmente seguem o que lhes é determinado. Mas de fato tenho orgulho em dizer que, no que depender de mim, sempre haverá alguém para quebrar esse protocolo.

Leandro Sá, 23 anos. Sugerindo um brinde a todos que não se rendem, superficialmente, a um pensamento padronizado.