segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O palco do dia- a- dia


A observação descompromissada de fatos cotidianos sempre me leva a algumas reflexões. É extremamente instigante perceber, por exemplo, a quantidade de papéis que uma única pessoa consegue exercer ao longo de sua convivência com os grupos sociais aos quais pertence. Essa pode parecer uma discussão banal, mas eu acredito que nem sempre o que passa despercebido pelos nossos olhos é irrelevante.

A grande motivação para que este texto viesse à existência surgiu de dois acontecimentos que, para algumas pessoas, poderiam causar apenas um riso momentâneo e um breve comentário com um amigo, mas, como o blogueiro que sou, achei válido trazer o assunto para um post aqui no “Miscelânea”. Então sem mais delongas vou narrar os fatos. O primeiro ocorreu durante a minha ida ao trabalho em que três meninas adolescentes me pararam a fim de fazer uma pergunta que, sinceramente, nem me lembro qual era, mas o que realmente me marcou dessa breve conversa foi um “Obrigado tio” dado como agradecimento pela resposta. “Tio eu!?” Elas poderiam ter me agradecido dizendo “Valeu Amigo!” ou “Obrigado Cara”, e confesso que iria critica-las mentalmente pelo exagero de gírias mas tio foi um adjetivo que me deixou bem angustiado ao longo do dia. Justifiquei-o com o fato de eu estar, conforme citei, indo para o trabalho, e, por esta razão, trajar uma roupa social o que por si só já constrói uma imagem mais formal, entretanto essa foi uma justificativa usada apenas para um auto – convencimento de que elas não me remeteriam a tal perfil (de uma pessoa mais velha e formal) se eu estivesse de jeans e camiseta. Já o outro caso que inspirou o post ocorreu no meu próprio ambiente de trabalho em que, hoje, exerço a função de Instrutor o que, simplificando,é uma espécie de professor dentro da empresa que ensina procedimentos para novos funcionários entre outras atividades. Sendo assim na turma que estou treinando atualmente existe um rapaz que me chama de “senhor” e por mais que isso indique respeito da parte dele soa no mínimo esquisito ouvir alguém de 19 anos me tratando por um termo geralmente usado para se referir a pessoas bem mais velhas.

O que mais se destaca em todo esse assunto é que em ambos os casos eu não me identifico com a imagem gerada por mim para as outras pessoas, o que me leva a crer que vivemos numa sociedade “teatralizada” que impõe, para todos que estiverem inseridos nela, personagens. E para que fique claro não estou tratando, em momento algum, esta teatralização como algo negativo, esse processo é natural e comum a todos, logo você cria, naturalmente perfis para identificar outras pessoas, assim como você também é visto da mesma forma pelos demais.

Sei que não sou a primeira pessoa do mundo a utilizar uma metáfora comparando a vida às artes cênicas e que o assunto pode parecer clichê, mas resolvi aborda–lo porque geralmente as pessoas não refletem acerca dos papéis que estão exercendo e ao perceber que sou visto como o “Leandro Chefe”, o “Leandro Filho”, ou o “Leandro Amigo” achei válido trazer este assunto para o blog para que todos possam pensar acerca de quais os personagens tem interpretado ao longo de seus dias.


Leandro Sá, 22 anos, tentando ser o melhor ator nos espetáculos em que tenho me apresentado.

9 comentários:

  1. Ótimo texto Leandro! Eu Lhe recomendo a leitura de um livro, " A representação do Eu na vida cotidiana" de Erving Goffman. O texto aborda exatamente essa questão através de uma perspectiva sociológica, dialogando sobre a representação de "papeis" pelos individuos e ainda fazendo uma analogia ao teatro. Grande Abraço, Bruno Azevedo.

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  2. Lenadro TIO!?
    hahaha mto boom... texto mto interessante, nunca tinha parado pra pensar sobre... trocando em miudos... vivemos de aparencia, mas digo isso nao negativamente, mas sim pq somos avaliados mtas vzs como nos vestimos ou falamos.
    abração!

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  3. Eu tenho que bater palmas pra vc menino. Sinceramente, você tem uma dinamicidade e uma escrita. SÉRIO! Você deveria investir mais nisso. Li alguns posts antigos e me identifiquei muito com tudo escrito. Também sou estudante de Letras e acho que tudo isso é um ÓTIMO exercício de como expor nossas opiniões. Mais uma vez,Parabéns! Jonathan

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  4. Comecei a escrever o comentário, e vi que estava escrevendo um texto próprio sobre esse assunto, coisa que queria fazer há tempos e que tinha me esquecido. Obrigado por me fazer lembrar.

    Ah, o que escrevi: http://nfreemax.blogspot.com/ . É o 1o post. Vê se comenta né :D

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  5. eu ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!


    q comparação perfeitaaa e bem reforçada , amuuuuu seus textos! :)

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  6. texto bem redigido! eu gargalhay qnd vc foi chamado de tio. sinceramente acho q é essa a graça da vida,os papéis q a sociedade nos impõe. impossivel vc ser visto com os mesmos olhos q a "leandro mãe" te vê em seu trabalho,ou numa conversa num sabado a noite aki em casa.

    a flexibilidade de grupos é normal,porem a flexibilidade de personalidade nos meios desses grupos q diz o carater da pessoa! bom texto! bjux

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  7. É xis...vc tá ficando velho, companheiro...rs mas eu sei mais ou menos como é ser visto pelas pessoas de forma deiferente, mas na verdade pra vc, vc é sempre vc... entendeu? é esquisito ver a imagem q formam sobre nós... um professor falando sobre mim pra uma turma acerca dos meus hábitos de gamer fez com que uma das meninas me imaginasse magrelo, de cabelo escorrido a gel e de óculos fundo de garrafa em frente a um video game! XD terrível! se sentiu aliviado com ser chamado de tio agora? rs
    Aí tu que nunca comentou no meu blog comenta lá, kra! www.midiariojzl.blogspot.com
    ABÇ!

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  8. Amigo, este post revelou pra mim o quanto é aguçada esta tua capacidade de introspecção. Achei muito interessante. Lembro q comentou comigo sobre o treinando (M...) q t chamou d "senhor". Me impressionou a importância tamanha que vc atribuiu a isso. Enfim, acho q este texto (propositalmente ou nao) justifica o vasto interesse em desenvolver o tema que vc me disse desejar abordar em tua Monografia. Esta percepção ficou evidente pra mim quando vc fez analogia às Artes Cênicas citando a "teatralização" e os "papéis" que exercemos na sociedade. Tua 2ª faculdade tem q ser de História ou Ciências Sociais. Um abraço de quem admira sinceramente tua inteligência... Vinicius Pelegacci

    E, não escrevo tão bem quanto vc, mas me visite tb! >>> http://viniciuspelegacci.blogspot.com

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  9. A moral da história é que não adianta tentar controlar a imagem que os outros fazem de nós, cada um lê aquilo que vê de uma forma diferente e se preocupar com isso [por mais que eu também o faça] é bobagem! É mais importante isso aí que você falou, exercer bem os diferentes papéis que temos na vida, seja o do professor, o do filho, o do amigo e etc.

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