domingo, 21 de fevereiro de 2010

Síndrome do Underground


"Eu gostava mais da Lady Gaga quando ela ainda não era conhecida por tanta gente.”, “ Antes só eu e alguns amigos líamos Clarice Lispector, hoje qualquer um se acha intelectual porque leu um livro dela.”, “Essa série perdeu o conteúdo agora que está atingindo um número tão grande de pessoas.” . Estas e outras afirmações do gênero já foram ouvidas, e confesso que também ditas, por mim e por parte dos amigos. Ao pensar nelas identifico uma característica em comum, e é exatamente esse o assunto que me motiva a escrever este texto o “semi-distúrbio” que eu acabei por intitular, por falta de um nome mais adequado, como síndrome do underground.Underground( que significa subterrâneo em inglês) é uma palavra muito utilizada pelos roqueiros para designar bandas que não fazem, ainda, parte do mainstream (circuito de artistas conhecidos pela mídia e grande público) aqui eu uso a palavra para me referir não só a bandas mas a artistas de todos os gêneros, programas e elementos de mídia de uma maneira geral.

A síndrome em questão atinge grande parte das pessoas que são muito aficcionadas por algo, ou alguém, e sentem o paradoxal desejo de que ele seja admirado por todos e, ao mesmo tempo, desconhecido do grande público o que acaba se tornando bem confuso, visto que, para a maioria das pessoas o admirador é aquele que quer ver seu objeto de admiração conhecido por todos, estendendo esse conhecimento a outras pessoas.

Boa parte dessa rejeição, por parte das pessoas que possuem esta síndrome em multiplicar sua admiração, deve-se a alguns fatores principais. O primeiro é certo sentimento de possessividade que elas acabam adquirindo, inconscientemente, em relação a seus “ídolos” já que se sentem quase que descobridores dos mesmos. O segundo, e me atrevo a dizer que o principal, é a verdadeira aversão que muitas pessoas tem à tudo que faz parte do que seria a cultura popular. Conheço gente, inclusive, que já deixou de gostar de suas bandas favoritas só porque elas se tornaram conhecidas, e assim é criada uma imagem negativa de tudo o que se torna parte da massa. Renegar a cultura popular neste caso é ineficaz, pois a partir do momento em que o que é underground se torna conhecido o único fator, a principio, mudado é a proporção que ele vai alcançar sendo assim desnecessário que se tenha uma visão diferente da anterior em relação ao que se admira.

Apesar destes fatores eu não acredito que a síndrome seja algo totalmente prejudicial pois também é válido ressaltar o fato de que vivemos num mundo em que as pessoas buscam parecer, a todo momento, originais, fugindo assim de qualquer característica que as faça sentir mais um na multidão e para isso buscam usar roupas diferentes, frequentar lugares nem sempre convencionais, ouvir músicas de artistas não tão conhecidos e diversas outras artimanhas que obviamente não são únicas mas utilizadas por um público bem mais restrito . Daí quando estes “truques” deixam de ser exclusivos de uma pequena quantidade de pessoas, acontece o conflito que pode vir a se tornar a síndrome.

Então depois de muito definir a síndrome do underground chego à conclusão de que eu sofro dos efeitos, ainda que leves, dela. Admito que me dá certa satisfação ler livros de autores, clássicos ou contemporâneos, que a maioria dos meus amigos nem sonha que existem, ouvir músicas de cantoras promissoras que ainda estão longe de tocar nas rádios e que um dia eu vou poder falar “ Eu conheci primeiro” , ou assistir aos programas culturais da TV Brasil que praticamente ninguém vê, e isso me faz bem.

Leandro Sá, 21 anos, admitindo que apesar de sofrer da síndrome do undreground também aproveito o que há de popular e comum no mundo.