terça-feira, 8 de março de 2011

O Velho e o Moço

“Ora, se não sou eu quem mais vai decidir o que é bom pra mim? Dispenso a previsão.

Se o que eu sou é também o que eu escolhi ser, aceito a condição.”

Rodrigo Amarante. (Los Hermanos - CD Ventura - 2003)

Recentemente, alguns amigos do trabalho atribuíram-me o apelido de “velho”. Apelido esse que aceitei de bom grado, uma vez que confesso sem pudor algum ter em mim um lado cuja idade teima em divergir da certidão de nascimento. Por essa razão, pus-me a refletir sobre o quão relativa é a questão da idade. É fato que, por vezes, me sinto mais velho do que realmente sou, todavia o contrário também acontece, pois se algumas vezes tenho o mesmo pensamento que um senhor de 80 anos, me surpreendo também agindo como um garoto de 12 em determinados momentos.

Admito essa condição com muita facilidade uma vez que me sinto velho a cada vez que vejo adolescentes discutindo trivialidades típicas da idade que, em nenhuma escala, me interessam mais. Sinto-me velho toda vez que vejo as pessoas no auge do seu exibicionismo tentando aparecer mais que as outras por necessidade de auto-afirmação, seja no trabalho, na faculdade ou nas relações sociais cotidianas, e considero isso patético. Sinto-me velho quando é observada a minha veneração pela literatura e a voracidade com a qual me interesso pelos livros, algo tão fora de moda na contemporaneidade áudio-visual em que pensar de maneira crítica não faz parte da vida das pessoas, em especial das pessoas das mais jovens. Sinto-me velho ao ver meus amigos falando da busca pela estética ditada pela mídia como perfeita. E mais ainda quando me choco ao vê-los falar sobre anabolizantes de aplicação duvidosa e efeitos colaterais perigosos tão distantes estão da minha realidade. Sinto-me velho por saber que não preciso ficar bêbado para me divertir quando saio, em contrapartida existem pessoas que nunca vi sóbrias e, por isso, acham que estão no auge da popularidade. Sinto-me velho toda vez que decretam o fim da fidelidade nos relacionamentos e agem com naturalidade frente a isso enquanto eu penso que a traição é uma tremenda falta de respeito com qualquer que seja a relação (Como sou retrógrado!). Sinto-me velho quando me recuso a assistir cada novo block buster que fala sobre jovens americanos estúpidos e seus conflitos no cinema, porém não consigo companhia para assistir a um filme mais reflexivo que não esteja com a bilheteria tão concorrida. Sinto-me velho sempre que sou olhado com espanto ao dizer que o carnaval não é uma das minhas festas favoritas. Seja pelo estado insano que alguns foliões se apresentam, seja por ter certa aversão às aglomerações típicas da manifestação carnavalesca. E sinto-me velho, principalmente, cada vez que solto a frase “no meu tempo...” (nada mais típico da velhice do que dizer “no meu tempo...)". Nossa estou me sentindo um ancião!

Em contrapartida me sinto rejuvenescer toda vez é elogiada a minha alegria de viver, meu bom humor ou quando faço as pessoas rirem. Quando elogiam meu jeito brincalhão, quando dizem que eu tenho uma maneira despojada de encarar os acontecimentos cotidianos, que nem sempre são agradáveis. Sinto-me jovem sempre que a minha presença é solicitada em festas e reuniões de amigos com a intimação que diz “sem você não será a mesma coisa”. Sinto-me jovem quando vejo pessoas da minha idade com a mente fechada para uma série de coisas e quando sou considerado até “moderninho demais” em certas opiniões. Sinto-me jovem toda vez que dizem espantados “como você tem conhecimento para a sua pouca idade” – me perdoem se isso soar prepotente, mas realmente ouvi essa frase algumas vezes. Sinto-me jovem também cada vez que vou dormir às 03h00minh para esperar algum lançamento de música ou videoclipe de algum dos meus ídolos e ainda vibro com isso (quer atitude mais adolescente que essa?). Ok, confesso que realmente apresentei menos razões para que eu me sinta jovem do que as que apresentei para destacar a minha pseudo-velhice e talvez eu seja mesmo psicologicamente mais velho que jovem.

Há um tempo li um texto (não me lembro onde nem quando) que falava sobre essa nossa capacidade de ser ao mesmo tempo crianças e idosos e que tudo depende do contexto em que estamos. Acredito ter ficado claro o quanto eu concordo com tal afirmação. O grande problema é que vivemos numa sociedade que prioriza o novo em detrimento do antigo, refletindo no desejo de juventude eterna de grande parte da população. Desejo esse que só será superado quando conseguirmos equilibrar a positividade da juventude com a serenidade da experiência sem supervalorizar nenhum dos lados.

Leandro Sá, 22 anos no plano físico e quantos quiser no plano ideológico.