domingo, 10 de julho de 2011

Humano


"Alegria do pecado às vezes toma conta de mim
E é tão bom não ser divina
Me cobrir de humanidade me fascina
E me aproxima do céu"

Zélia Duncan e Moska



Esta semana ouvi na rádio a música "Carne e Osso" cantada por Zélia Duncan. Apesar da canção não ser nenhuma novidade percebi que nunca havia pensado o quanto ela aborda um tema de total frequência no dia-a-dia, a necessidade de uma "perfeição comportamental" que, como é muito bem dito pela composição da cantora junto com (Paulinho) Moska, está distante das nossas possibilidades.

A perfeição é exigida de maneira silenciosa pela sociedade. Muitas pessoas evitam, por exemplo, compartilhar suas "derrotas" com os demais a fim de apresentar sempre uma imagem pública impecável. É como ironiza Fernando Pessoa no seu "Poema em linha reta": "Nunca conheci quem tivesse levado porrada.Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo". Todavia, convivo com indivíduos que defendem sua prepotência ou qualquer outra atitude desagradável com frases como "é o meu jeito", e assim complicam todo tipo de convivência.

A autocobrança dessa perfeição é um dos reflexos do quanto as pessoas assimilam isso como meta de vida. Tenho amigos que se causam um sofrimento extremo por conta de tal necessidade. Para um deles, inclusive, (meu melhor amigo de faculdade, vale ressaltar) costumo dizer que ele ainda vai sofrer de gastrite nervosa se continuar se exigindo nota dez em todas as provas que fizer.

Também temos um problema sério quando essa cobrança se reverte para o outro. É deveras desagradável conviver com alguém que só aponta os defeitos alheios. Essas são, em geral, as pessoas que por serem "criteriosas de mais" conquistam poucas companhias nos diferentes âmbitos da vida.

Não faço a mínima questão de seguir o conceito de perfeição que é convencionalmente utilizado. Por vezes, esquecemos que o torna o ser-humano interessante são as nossas imperfeições. A"alegria do pecado"( com isenção da acepção cristã da palavra) cantada por Zélia, deveria ser um direito de todos. Afinal, como a própria cantora define "Quem se diz muito perfeito/Na certa encontrou um jeito insosso/Pra não ser de carne e osso." Concordo, Zélia.


Leandro Sá, 23 anos. Curtindo o lado bom de não ser perfeito.