quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Covardia Textual


Que me perdoe o leitor pela metalinguagem, mas ao escrever o texto que estaria aqui no blog no lugar deste tive uma série de reflexões que se tornaram maiores que o próprio post em questão e que, por isso achei relevante postá-las.

O texto ao qual me refiro, já estava na minha mente desde antes da existência do “Miscelânea” e fala sobre a superficialidade da sociedade de massa contemporânea. Eu abordaria questões como o valor excessivo da aparência, a falta da construção de pensamento crítico além de outros fatores que, a meu ver, são prejudiciais às relações humanas. Contudo, durante a formulação do texto algo me impediu de continuar a sua criação, e é aí que entram as reflexões acima citadas. Surgiu em mim um medo muito grande de atingir negativamente algum dos leitores do blog, isto porque meus leitores são, consequentemente, os meus amigos. Daí parte o conflito que estou aqui confessando, sou textualmente covarde.

Li há uma semana no blog de um amigo do trabalho um post discutindo, com muita propriedade por sinal, a legalização da maconha. Na hora em que li o tema abordado confesso que não tive outro pensamento senão:“Que coragem em abordar um assunto tão polêmico!” e pensando cheguei a conclusão de que em vários momentos deixei de abordar temas presentes na minha percepção de mundo pela repercussão polêmica que eles poderiam causar e por isso me questiono de onde vem esse medo de fermentar a discórdia.

Não é necessário pensar muito para entender a minha dificuldade em falar sobre assuntos que possam agredir as pessoas de alguma maneira. O tal medo de desagradar os outros vem claramente da minha necessidade de tentar agradar a todos, o que gera uma cobrança. Eu particularmente não acho essa uma das minhas características mais positivas e desejo um dia ter atitude suficiente para desprezar o pensamento alheio em relação a mim, mas é algo que ainda preciso desenvolver.

Um acontecimento recente prova esse meu defeito. Neste término de período na faculdade os alunos que alcançam 15 pontos em duas provas são liberados da obrigatoriedade de fazer uma terceira. Nos meus 3 períodos anteriores sempre fui beneficiado por esse sistema e assim nunca havia ido para a temida prova final, até que neste com a pendência de 0,5 pontos (somei 14,5 nas duas primeiras provas) terei que fazer a tal prova. Tão ruim quanto à situação de ter que ir a faculdade por mais algumas Terças-Feiras existe a frustração de ver a face espantada das pessoas junto a expressão “Não acredito que você está na prova final!” , as pessoas não imaginam o quanto essa cobrança é complicada para mim, mas de fato minha síndrome em agradar é culpada por estes comentários.

Talvez eu publique por aqui um dia o texto que eu escrevia enquanto pensava tudo isso que está exposto agora, mas neste momento percebam o que estão lendo como uma confissão que não visa elogios. Confissão de um pudor que, de acordo com a minha já conhecida opinião paradoxal, é pejorativamente necessário. Isto porque ao mesmo tempo em que eu penso ficar limitado pela minha covardia textual, ela me deixa aliviado de não criar inimizades através do que escrevo.

Leandro Sá, 22 anos, confessando aqui minha admiração aos corajosos textuais.