sábado, 28 de agosto de 2010

Construindo laços



Em uma de suas mais belas composições, o genial, Tom Jobim nos brinda com uma, das que eu considero, mais célebres frases da Música Popular Brasileira: “É impossível ser feliz sozinho...”. Por mais banal que a reflexão feita pelo compositor possa parecer, a realidade é que o ser humano tem realmente a necessidade de se relacionar com outrem das mais variadas formas, sendo a mais abrangente destas a amizade. Ela que é tão procurada ao longo da vida e, por alguns, tão desmerecida é o tema da vez no Miscelânea.

O que eu considero fator definitivo para estabelecer os mais diversos tipos de amizade é o nível de comunicatividade de cada um. Ao fazer uma autoanalise percebo que sou uma pessoa com alto grau de necessidade de interação social, logo, acabo por fazer, naturalmente, muitas amizades nas mais diferentes vertentes. Uma delas constitui um nível mais superficial,mas que com o tempo pode vir a se aprofundar, que eu resolvi nomear como: “amizade instantânea” e corresponde a situações em que, para mim, é inevitável não dialogar com alguém. Situações como filas longas e demoradas, por exemplo, são extremamente propícias para se estabelecer este tipo de amizade, já que, nesse caso as pessoas se unem na mesma indignação, ainda que seja só para passar o tempo. Tenho certeza que a maior parte dos leitores do blog agora já estabeleceram alguma amizade instantânea.

A propósito, o que mais me intriga em toda essa história, e o principal fator motivador para a criação desse post é a reflexão advinda da velocidade com a qual eu estabeleço laços de amizade com os outros ao meu redor. Basta uma simples afinidade como o mesmo gosto, musical, literário, ou qualquer outro que seja, para que a pessoa se transforme em um amigo de infância, aliás, nem sempre existem afinidades suficientes para isso, mas uma boa conversa pode vir a gerar algum tipo de estima. Os amigos que construí ao longo da vida devem estar lembrando, neste momento, da forma como nos conhecemos, na maior parte das vezes, despretensiosa, já que os melhores relacionamentos surgem da casualidade, e da rapidez com a qual nos tornamos confidentes.

Enfim, após essa reflexão, concluo que o tempo nunca foi um fator primordial para definir minhas amizades. Existem pessoas que medem os amigos que têm pelo tempo que os conhece, não que eu discorde,ou não valorize os amigos que tenho há mais tempo que, apesar da distância e, por vezes, da falta de contato, ainda contam com minha grande estima. Entretanto eu sigo um pensamento, que uso para encerrar o texto, de ninguém menos que o meu mestre maior nas letras Machado de Assis: "(...)Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos. (...)". Assino logo abaixo do Machado.

Leandro Sá, 22 anos, chegando a conclusão de que a amizade é muito mais fácil de viver que de escrever.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O palco do dia- a- dia


A observação descompromissada de fatos cotidianos sempre me leva a algumas reflexões. É extremamente instigante perceber, por exemplo, a quantidade de papéis que uma única pessoa consegue exercer ao longo de sua convivência com os grupos sociais aos quais pertence. Essa pode parecer uma discussão banal, mas eu acredito que nem sempre o que passa despercebido pelos nossos olhos é irrelevante.

A grande motivação para que este texto viesse à existência surgiu de dois acontecimentos que, para algumas pessoas, poderiam causar apenas um riso momentâneo e um breve comentário com um amigo, mas, como o blogueiro que sou, achei válido trazer o assunto para um post aqui no “Miscelânea”. Então sem mais delongas vou narrar os fatos. O primeiro ocorreu durante a minha ida ao trabalho em que três meninas adolescentes me pararam a fim de fazer uma pergunta que, sinceramente, nem me lembro qual era, mas o que realmente me marcou dessa breve conversa foi um “Obrigado tio” dado como agradecimento pela resposta. “Tio eu!?” Elas poderiam ter me agradecido dizendo “Valeu Amigo!” ou “Obrigado Cara”, e confesso que iria critica-las mentalmente pelo exagero de gírias mas tio foi um adjetivo que me deixou bem angustiado ao longo do dia. Justifiquei-o com o fato de eu estar, conforme citei, indo para o trabalho, e, por esta razão, trajar uma roupa social o que por si só já constrói uma imagem mais formal, entretanto essa foi uma justificativa usada apenas para um auto – convencimento de que elas não me remeteriam a tal perfil (de uma pessoa mais velha e formal) se eu estivesse de jeans e camiseta. Já o outro caso que inspirou o post ocorreu no meu próprio ambiente de trabalho em que, hoje, exerço a função de Instrutor o que, simplificando,é uma espécie de professor dentro da empresa que ensina procedimentos para novos funcionários entre outras atividades. Sendo assim na turma que estou treinando atualmente existe um rapaz que me chama de “senhor” e por mais que isso indique respeito da parte dele soa no mínimo esquisito ouvir alguém de 19 anos me tratando por um termo geralmente usado para se referir a pessoas bem mais velhas.

O que mais se destaca em todo esse assunto é que em ambos os casos eu não me identifico com a imagem gerada por mim para as outras pessoas, o que me leva a crer que vivemos numa sociedade “teatralizada” que impõe, para todos que estiverem inseridos nela, personagens. E para que fique claro não estou tratando, em momento algum, esta teatralização como algo negativo, esse processo é natural e comum a todos, logo você cria, naturalmente perfis para identificar outras pessoas, assim como você também é visto da mesma forma pelos demais.

Sei que não sou a primeira pessoa do mundo a utilizar uma metáfora comparando a vida às artes cênicas e que o assunto pode parecer clichê, mas resolvi aborda–lo porque geralmente as pessoas não refletem acerca dos papéis que estão exercendo e ao perceber que sou visto como o “Leandro Chefe”, o “Leandro Filho”, ou o “Leandro Amigo” achei válido trazer este assunto para o blog para que todos possam pensar acerca de quais os personagens tem interpretado ao longo de seus dias.


Leandro Sá, 22 anos, tentando ser o melhor ator nos espetáculos em que tenho me apresentado.