A observação descompromissada de fatos cotidianos sempre me leva a algumas reflexões. É extremamente instigante perceber, por exemplo, a quantidade de papéis que uma única pessoa consegue exercer ao longo de sua convivência com os grupos sociais aos quais pertence. Essa pode parecer uma discussão banal, mas eu acredito que nem sempre o que passa despercebido pelos nossos olhos é irrelevante.
A grande motivação para que este texto viesse à existência surgiu de dois acontecimentos que, para algumas pessoas, poderiam causar apenas um riso momentâneo e um breve comentário com um amigo, mas, como o blogueiro que sou, achei válido trazer o assunto para um post aqui no “Miscelânea”. Então sem mais delongas vou narrar os fatos. O primeiro ocorreu durante a minha ida ao trabalho em que três meninas adolescentes me pararam a fim de fazer uma pergunta que, sinceramente, nem me lembro qual era, mas o que realmente me marcou dessa breve conversa foi um “Obrigado tio” dado como agradecimento pela resposta. “Tio eu!?” Elas poderiam ter me agradecido dizendo “Valeu Amigo!” ou “Obrigado Cara”, e confesso que iria critica-las mentalmente pelo exagero de gírias mas tio foi um adjetivo que me deixou bem angustiado ao longo do dia. Justifiquei-o com o fato de eu estar, conforme citei, indo para o trabalho, e, por esta razão, trajar uma roupa social o que por si só já constrói uma imagem mais formal, entretanto essa foi uma justificativa usada apenas para um auto – convencimento de que elas não me remeteriam a tal perfil (de uma pessoa mais velha e formal) se eu estivesse de jeans e camiseta. Já o outro caso que inspirou o post ocorreu no meu próprio ambiente de trabalho em que, hoje, exerço a função de Instrutor o que, simplificando,é uma espécie de professor dentro da empresa que ensina procedimentos para novos funcionários entre outras atividades. Sendo assim na turma que estou treinando atualmente existe um rapaz que me chama de “senhor” e por mais que isso indique respeito da parte dele soa no mínimo esquisito ouvir alguém de 19 anos me tratando por um termo geralmente usado para se referir a pessoas bem mais velhas.
O que mais se destaca em todo esse assunto é que em ambos os casos eu não me identifico com a imagem gerada por mim para as outras pessoas, o que me leva a crer que vivemos numa sociedade “teatralizada” que impõe, para todos que estiverem inseridos nela, personagens. E para que fique claro não estou tratando, em momento algum, esta teatralização como algo negativo, esse processo é natural e comum a todos, logo você cria, naturalmente perfis para identificar outras pessoas, assim como você também é visto da mesma forma pelos demais.
Sei que não sou a primeira pessoa do mundo a utilizar uma metáfora comparando a vida às artes cênicas e que o assunto pode parecer clichê, mas resolvi aborda–lo porque geralmente as pessoas não refletem acerca dos papéis que estão exercendo e ao perceber que sou visto como o “Leandro Chefe”, o “Leandro Filho”, ou o “Leandro Amigo” achei válido trazer este assunto para o blog para que todos possam pensar acerca de quais os personagens tem interpretado ao longo de seus dias.
Leandro Sá, 22 anos, tentando ser o melhor ator nos espetáculos em que tenho me apresentado.