domingo, 25 de dezembro de 2011

Sim, é possível!

Essa semana, presenciei um dos momentos mais importantes e emocionantes da minha vida. Meus pais completaram vinte e cinco anos de casamento, comemorados com uma bela cerimônia de Bodas de Prata. Isso me remeteu a um dos assuntos que quero abordar por aqui faz tempo: a descrença no amor romântico.

Vivemos hoje uma época em que as relações se tornam cada vez mais efêmeras. Em tempos de redes sociais vemos a multiplicação de manifestações anti-seriedade no relacionamento. Não que queira eu vilanizar quem não nasceu para a monogamia, entretanto desmerecer a possibilidade de que alguém possa viver somente com a mesma pessoa por anos, para um avesso a generalizações como eu, soa como ignorância.

É claro que quando me refiro a namoro/noivado/casamento, ou qualquer outro compromisso que se aproxime destas definições, não falo dos clichês midiáticos encontrados em alguns filmes e (todas as) novelas. O “felizes para sempre” só existe na ficção e se relacionar exige tolerância. Pois, para construir algum futuro com outra pessoa é necessário ceder em vários momentos. Apesar disso, a idealização de romance propagada pela mídia está tão impregnada no imaginário popular que as pessoas se acovardam ao primeiro sinal de problema e preferem voltar a solteirice.

Há quem diga que quem tem a necessidade de ficar com várias pessoas, sem apego sentimental, é no fundo infeliz. Eu não compartilho tal afirmativa, porque tenho vários amigos satisfeitos com esse estilo de vida. Não faço parte do grupo que julga pejorativamente quem quer se relacionar com cinco, dez ou quinze pessoas simultaneamente, contudo ainda me dou o direito de acreditar, enfim, na possibilidade de ser feliz com apenas uma, por mais que me considerem careta.

Leandro Sá, 23 anos, permitindo-me ser piegas por algumas linhas.

domingo, 2 de outubro de 2011

Eu Fui

Hoje termina o Rock in Rio. O maior festival de música do Brasil não acontecia a dez anos em sua terra natal e, por esse e outros motivos, levou um público de cem mil pessoas diariamente em suas sete noites. A multiplicidade musical é um dos maiores méritos do festival que recebeu artistas diversos (de Katy Perry a Metallica) e, mesmo sendo criticado por essa diversidade, que contrasta com o título, cumpriu seu papel de reunião para os amantes de música.

Como muitos amigos meus comprei meus ingressos em Maio. Escolhi os dois dias que considerei mais concentravam artistas que fazem parte da minha vida musicalmente falando. Sendo assim fui aos dias 23 de Setembro e 01 de Outubro. A experiência de estar no Rock in Rio é surreal para mim que comecei a apreciar música verdadeiramente a partir da terceira edição do festival em 2001.


Tudo contribui para a perfeição dos dias passados lá dentro. Quem gosta de adrenalina aproveitou atrações como a Tirolesa e a Montanha Russa (ok, as filas eram gigantescas, mas teve muita gente disposta a esperar e que não se arrependeu de ficar cerca de duas horas aguardando). Mas para mim o melhor entretenimento pré-shows do Palco Mundo foi o Palco Sunset que fez encontros incríveis e emocionantes , afinal assistir Sandra de Sá e Bebel Gilberto cantando Cazuza juntas é algo que dificilmente não encanta.


Claro que sendo o Palco Mundo o local dos principais acontecimentos do evento é de lá que guardo as maiores recordações. Vi alguns dos melhores artistas nacionais como Paralamas do Sucesso e Titãs tocando juntos, passando por Frejat cantando as músicas da carreira solo e algumas do Barão Vermelho, até o Skank que tem um domínio de palco animador. Os internacionais também foram inesquecíveis. Katy Perry dominou o público com seu carisma e jeito provocativo, Rihanna nos irritou com seu atraso, todavia fez um show pelo qual valeu a pena esperar, Maroon 5 que impregnou a Cidade do Rock de hits, e finalmente o show que eu esperava assistir há anos Coldplay ao vivo. Sobre este só tenho a dizer que vê-los no palco é uma experiência transcendental. Logo, valeu cada centavo gasto para o festival.


Numa conversa que tive com um amigo sobre a elasticidade do termo “superficial” ele disse considerar ir a um show algo fútil. Acredito que os freqüentadores da Cidade do Rock não concordem com o infeliz comentário do meu amigo. Isto porque existe uma energia que a Multishow, a Globo e o You Tube não passam, e que só sentiu quem entrou lá. Essa energia longe de ser fútil é necessária para qualquer apaixonado por música.



Leandro Sá, 23 anos. Ainda inebriado por ter assistido o Coldplay ao vivo a menos de 24 horas.

sábado, 17 de setembro de 2011

Apenas racionais ?


Essa semana vi uma situação que me acarretou diversas reflexões. Durante uma viagem de trem três estudantes de aproximadamente 12 anos estavam rindo de um de seus colegas (que não estava com eles no momento) por este ter chorado em público após sua namorada terminar o relacionamento. Tal ocorrido corrido prova, ao menos para mim, o quanto é real uma certeza que tenho há tempos: somos treinados durante toda a nossa vida para esconder, ou no mínimo disfarçar em determinados momentos, nossa faceta mais sentimental. Não falo de um sentimentalismo piegas, mas da sensibilidade comum a todo ser humano.

O deboche que presenciei feito sobre uma demonstração de fragilidade é muito mais comum do que se imagina e, teorizo eu, deve-se a insegurança que as pessoas têm e preferem disfarçar ressaltando as “falhas” dos demais. Ouvimos sempre sobre a necessidade de sermos fortes em todas as situações que acabamos por negar nossa insegurança e atacar qualquer vestígio dela apresentado por outrem.

O pior é que considero algumas pessoas extremistas em relação a busca por auto-afirmação. Conheço gente que tem a necessidade de ridicularizar os outros a todo o momento com intuito, ainda que inconsciente, de se sentir melhor consigo mesmo. Assim como os pit-boys que precisam agredir fisicamente outras pessoas para externar sua insegurança.

A situação é muito mais complexa quando se trata de representantes do sexo masculino. Desde criança a frase “homem não chora” se torna conhecida junto com todo o conceito de “virilidade” que lhe está embutido. A partir dessa assimilação se torna vergonhosa qualquer ação que contraponha o conceito imposto de masculinidade. Sendo assim não se predispor a uma briga física, chorar assistindo a um filme ou não conhecer a colocação da tabela do campeonato de futebol são “inadmissíveis” para um homem. E assim criamos um esteriótipo machista que, para o bem das mulheres, está a cada dia menos real.

O ser humano não é auto-suficiente, buscamos a todo o momento afirmação perante a nós mesmos e a sociedade em que vivemos. Acredito que não devemos ser pessoas passivas, mas não podemos esquecer também que não somos apenas racionais e que, muitas vezes, nosso lado emocional também é muito relevante. E se supervalorizamos apenas um desses pólos, temos sérios problemas.

Leandro Sá, 23 anos, escrevendo pouco aqui no blog atualmente devido a minha monografia.

domingo, 10 de julho de 2011

Humano


"Alegria do pecado às vezes toma conta de mim
E é tão bom não ser divina
Me cobrir de humanidade me fascina
E me aproxima do céu"

Zélia Duncan e Moska



Esta semana ouvi na rádio a música "Carne e Osso" cantada por Zélia Duncan. Apesar da canção não ser nenhuma novidade percebi que nunca havia pensado o quanto ela aborda um tema de total frequência no dia-a-dia, a necessidade de uma "perfeição comportamental" que, como é muito bem dito pela composição da cantora junto com (Paulinho) Moska, está distante das nossas possibilidades.

A perfeição é exigida de maneira silenciosa pela sociedade. Muitas pessoas evitam, por exemplo, compartilhar suas "derrotas" com os demais a fim de apresentar sempre uma imagem pública impecável. É como ironiza Fernando Pessoa no seu "Poema em linha reta": "Nunca conheci quem tivesse levado porrada.Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo". Todavia, convivo com indivíduos que defendem sua prepotência ou qualquer outra atitude desagradável com frases como "é o meu jeito", e assim complicam todo tipo de convivência.

A autocobrança dessa perfeição é um dos reflexos do quanto as pessoas assimilam isso como meta de vida. Tenho amigos que se causam um sofrimento extremo por conta de tal necessidade. Para um deles, inclusive, (meu melhor amigo de faculdade, vale ressaltar) costumo dizer que ele ainda vai sofrer de gastrite nervosa se continuar se exigindo nota dez em todas as provas que fizer.

Também temos um problema sério quando essa cobrança se reverte para o outro. É deveras desagradável conviver com alguém que só aponta os defeitos alheios. Essas são, em geral, as pessoas que por serem "criteriosas de mais" conquistam poucas companhias nos diferentes âmbitos da vida.

Não faço a mínima questão de seguir o conceito de perfeição que é convencionalmente utilizado. Por vezes, esquecemos que o torna o ser-humano interessante são as nossas imperfeições. A"alegria do pecado"( com isenção da acepção cristã da palavra) cantada por Zélia, deveria ser um direito de todos. Afinal, como a própria cantora define "Quem se diz muito perfeito/Na certa encontrou um jeito insosso/Pra não ser de carne e osso." Concordo, Zélia.


Leandro Sá, 23 anos. Curtindo o lado bom de não ser perfeito.

domingo, 12 de junho de 2011

A maravilhosa vida dos outros

Que atire a primeira pedra quem nunca quis saber mais sobre aquele colega de trabalho que não costuma ser comunicativo nem mesmo em momentos informais, ou sobre aquela vizinha que parece não ser muito adepta à fidelidade conjugal e sempre recebe visitas suspeitas na ausência do marido.

O ser humano tem a necessidade de tecer comentários sobre a vida alheia. Por mais que não admitam, as pessoas gostam de saber quem as outras são, o que fazem, do que gostam e obter todo tipo de informação relevante para ser usada como pauta nas mais variadas conversas. Não confundam o que digo como uma defesa à fofoca. Essa é nociva e, muitas vezes, maldosa. O que faço ode nesta crônica é a admissão da curiosidade, por mais que a linha divisória entre elas seja, perigosamente, tênue.

A ficção é um dos reflexos dessa real dependência que temos de análise das relações humanas. O cinema é grande norteador de reflexões sobre atitudes e suas implicações no cotidiano. Também a telenovela, esta com um alcance popular incalculável, põe em debate questões que fazem parte da vida de milhões de pessoas e, mais uma vez, julgamos comportamentos relacionando-os com a nossa realidade. Então, desde manifestações artísticas consideradas eruditas, como a literatura, e programas de apelo popular, como os reality shows são reflexo de nossa curiosidade.

A problemática da questão surge quando nos deparamos com a parte mais patética dessa história. A "indústria das celebridades" nada mais é do que uma vertente midiática especializada em acompanhar famosos nas suas vidas comuns e fúteis. Para ela algo como um simples mergulho na praia que é capaz, por si só de gerar uma capa de revista, uma grande (só em questão de tempo mesmo) reportagem na televisão ou o link mais acessado da internet. Esse tipo de curiosidade já me soa um tanto exagerada e fico decepcionado em existir gente que consome, avidamente, tal conteúdo.

Acredito que a curiosidade é uma característica comum a todo ser humano. Eu sou, tu és, ele é... nós somos naturalmente curiosos. E nunca conheci ninguém que conseguisse fugir a essa máxima.

Leandro Sá, 23 anos. Admitindo que a curiosidade é muito mais simpática quando está direcionada para a vida de outrem.

sábado, 28 de maio de 2011

Meu amor por ela


Não tem jeito. O assunto que mais comento com meus amigos amantes de música é o Rock in Rio. De volta ao Brasil depois de 10 anos o festival causou uma síncope coletiva durante a venda de ingressos e, apesar das críticas que tem recebido (inclusive minhas) sobre a escalação das atrações e a distribuição de artistas e bandas por dia, já é um sucesso garantido.

A música é uma das grandes companheiras do homem há muito tempo. Dificilmente ela não está inserida entre as preferências de qualquer pessoa. Seja apenas para ouvir no trânsito ou como formação acadêmica ela abrange tantos assuntos quanto seu compositor queira tratar. Desde uma banal ordenação de passos de dança até forte crítica ideológica a um sistema de governo tudo cabe neste ambiente cercado por ritmos e letras.

A minha relação com ela também é antiga (ainda peguei o final da época dos LPs), todavia foi em 2001 assistindo ao Rock in Rio pela TV que me dei conta do quanto é prazeroso ter ídolos e acompanhá-los. Minha forma de consumir música então se transformou. Sou do tipo de pessoa que gosta de comprar o CD físico com direito a encarte e sinto que assim estou fazendo parte da construção de uma carreira. Uma pena isso ser tão desvalorizado na contemporaneidade já permeada pela música digital. Atualmente vivemos numa sociedade em que tudo acaba por se superficializar, inclusive o consumo de música. Não sou tão retrógrado a ponto de não baixar nada lançado por artistas que admiro e considerar todos aqueles que fazem downloads traidores ou menos fãs, ao contrário minha ansiedade não permite que eu não baixe um novo disco que "vaza" na internet antes de seu lançamento oficial, porém ainda gosto de ter os álbuns de quem admiro na minha coleção.

De fato ao menos 80% dos meus ídolos musicais vieram dos anos em que eu era adolescente, período em que nos construímos, entre todos os aspectos, também musicalmente. Ainda por isso considero-a responsável por metade das minhas amizades. É engraçado lembrar a quantidade de pessoas que eu me aproximei devido a conversas sobre um lançamento de videoclipe ou sobre uma decepção ao ouvir determinado CD. Talvez por não gostar de futebol (paixão de 99% dos homens brasileiros) consegui subverter esse apreço a times e jogadores na minha obsessão por música.

Hoje, ainda que tardiamente, estou superando uma frustração que me acompanha há exatamente 10 anos que é não ter ido fisicamente ao Rock in Rio 3, tão responsável pela minha identidade musical. Tenho certeza que ao entrar na cidade do rock em Setembro (e Outubro, pois eu não conseguiria ir ao festival apenas um dia) reviverei enfim o momento em que o Leandro de 13 anos começou a se tornar o apreciador de música que é hoje e, finalmente serei curado, em parte, desse trauma adolescente.

Leandro Sá, 23 anos, contando os dias para ver Coldplay, Katy Perry, Frejat, Titãs, Rihanna, Skank, Paralamas e uma gama de artistas que admiro no maior festival de música do Brasil.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sim para a educação urbana


Conviver é uma das atividades cotidianas mais difíceis e com a qual muitas vezes temos problemas. Além das relações que somos convencionalmente obrigados a manter seja em casa, no trabalho, na faculdade ou em qualquer outro ambiente em que construímos afetividade e, ainda assim, temos nossas adversidades ainda temos o contato forçado travado nas ruas, nos transportes, nas bibliotecas, nas baladas e em inúmeros outros lugares em que existem pessoas por nós desconhecidas.

E é exatamente esse contato efêmero com desconhecidos que pretendo abordar. É curioso notar, a partir deste ponto, a quantidade de pessoas que carece de algo que aqui chamarei de educação urbana. São diversos tipos que aparentam não ter a mínima noção de respeito coletivo ou de discernimento lógico. Listarei aqui os principais representantes dessa praga social.

O primeiro que vem a minha mente quando abordo esse assunto é incomodo a qualquer pessoa que costume andar de ônibus, trem, metrô ou qualquer outro transporte coletivo. É claro que estou falando do ser odioso que faz total questão de deixar o seu celular no último volume exibindo a total potência do seu auto-falante para que todos ouçam suas músicas favoritas (que em geral se resumem a qualquer novidade que esteja na moda e de produção e qualidade duvidosos). Admiro os avanços tecnológicos e considero fantástico que eles estejam conseguindo atingir várias camadas sociais, mas acredito que junto a eles deve estar também o direito a não ouvir algo de que não gosto. Viva o fone de ouvido, tão renegado por essas pessoas.

Outros cidadãos que também merecem ser citados são os escandalosos. E quando falo deles me refiro às pessoas que expõem suas conversas, que até então pareciam particulares, no celular para todos devido ao seu altíssimo tom de voz, dos grupos que consideram qualquer algazarra desordenada um exemplo de bom humor e, por isso, incomodam a todos que estão a seu redor com piadas que não têm a menor graça para quem não está inserido em seu contexto. E para complementar compactuam com a intromissão na conversa alheia algo extremamente condenável nas regras de bom convívio, em especial se você não conhece a pessoa que está tendo seu assunto invadido.

Ainda entre os grandes ofensores da convivência coletiva temos os que pretendem me matar de alguma doença do pulmão. Alguns fumantes precisam entender que nem todos apreciam aspirar a sua fumaça e que existem ambientes em que acender um cigarro pode não ser agradável a todos. Sim, tenho muitos amigos fumantes que sabem se comportar e vocês não estão inseridos nesse parágrafo. Mas de fato existe muita gente que acha que o mundo ama ficar com odor de cinzeiro.

Não sou politicamente correto 24 horas por dia, porém se existe algo que me incomoda profundamente é ver alguém jogando seu lixo em qualquer lugar que não seja próprio para tal. Não parece haver preocupação por parte de alguns com suas atitudes ambientais e seu impacto na própria realidade em que vivem. Sem querer bancar o ambientalista já vi pesquisas em que pessoas que visitam o Brasil informam qual foi o aspecto menos agradável do país e ao responderem essa pergunta a maior parte deles informa que é a sujeira nas ruas. Ainda sonho com o dia em que ninguém jogará lixo no chão e teremos um ambiente muito mais limpo.

Sei que muitos se identificaram com o incomodo que lhes é causado por esses personagens presentes em nosso dia-a-dia. Ainda que não queiramos, topamos sempre com cada um deles. De fato não há possibilidade de evitá-los e a cada dia parece que seu número se multiplica. Portanto se não podemos com eles... exercitemos nossa paciência.

Leandro Sá, 23 anos, ciente de que faltam muitos tipos a serem citados e preparando para, quem sabe um dia, a parte 2 dessa crônica.

domingo, 8 de maio de 2011

Quebra de protocolo



Se eu fosse candidato a algum cargo político, na minha plataforma com certeza faria alusão a algum projeto de lei que extinguisse definitivamente da face da Terra duas das principais mazelas comportamentais humanas: a superficialidade e o moralismo. A primeira é responsável por uma violenta padronização estética e a segunda por uma estruturação comportamental que permeia o imaginário da sociedade de maneira silenciosa e quase imperceptível para quem não tem o hábito de pensá-la.

Temos o script das nossas vidas pronto antes mesmo de chegarmos fisicamente ao mundo. Desde o choro ao nascer, passando pela boa conduta na escola quando somos crianças, do casamento à vida reclusa quando ficamos mais velhos tudo é convenção social. Por isso falar de relações humanas é falar de padronização, que é até necessária para a manutenção de uma convivência coletiva harmoniosa (imaginem se não fosse convencionado que se apossar de bens alheios é algo errado o caos em que viveríamos). Todavia ela pode ser muitas vezes cruel com quem, por qualquer motivo, não se enquadra em algum ponto na normalização previamente determinada pela concordância silenciosa do certo e do errado.

O grande problema dessa homogeneidade social é quando ela torna as pessoas intolerantes a tudo o que fuja ao seu conceito sobre o que seria adequado. Um dos grandes males causados por essa intolerância é o tão comentado atualmente bullying. É triste ver se multiplicarem casos de agressão (física e verbal) dentro do ambiente escolar onde apenas o conhecimento e a integração deveriam ser buscados. E talvez o pior, é que crianças viram adultos e se crescem com essa visão de mundo se tornam os pitboys que de tempos em tempos temos notícias nos jornais.

A pasteurização social é responsável também por outro tipo de violência, essa aparentemente inofensiva. Trata-se da grave orientação das pessoas a seguirem sempre a mesma tendência e, por isso, as vemos com todo um visual quase idêntico. Usam-se as mesmas calças, os mesmos tênis, os mesmos cordões e assim cria-se um exército de alienados sem gosto pessoal que seguem apenas o que está “na moda”. Confesso que fico feliz toda vez que vejo uma mulher que assume seus cabelos cacheados enquanto vivemos a era da chapinha, considero isso quase que uma manifestação (inconsciente) anti-padrão. E essa orientação também rege as pessoas quanto ao que diz respeito à ditadura do corpo “perfeito”. Devido à propagação que é feita através da TV, de revistas, da internet e da infinidade de meios midiáticos as pessoas se sentem obrigadas a terem o corpo do galã ou da mocinha da novela das 8, caso contrário sentem que não conseguirão ser felizes e pior é quando acham correta a necessidade de todos fazerem o mesmo.

Em um de seus últimos singles a cantora “Pink” sugere um brinde a todos os que se sentem fora do que a sociedade julga como admirável. Na verdade eu considero necessário que tenhamos a consciência do quanto somos influenciados por essa pasteurização, mas temos também que saber o quanto ela prejudicial para, só assim, nos libertarmos dela. Fico decepcionado quando vejo as pessoas tomarem atitudes que são, perceptivelmente, avessas a sua ideologia só para terem aceitação e mais triste ainda quando vejo pessoas que não possuem ideologia alguma e simplesmente seguem o que lhes é determinado. Mas de fato tenho orgulho em dizer que, no que depender de mim, sempre haverá alguém para quebrar esse protocolo.

Leandro Sá, 23 anos. Sugerindo um brinde a todos que não se rendem, superficialmente, a um pensamento padronizado.

domingo, 24 de abril de 2011

Olhe bem de perto


Este ano resolvi comprar os DVDs de todos os filmes que, de alguma maneira, marcaram a minha vida, uma vez que já costumo fazer isso com CDs e DVDs musicais. A decisão tem sido positiva, pois assim recordo não só as histórias em si, mas as respectivas épocas em que cada uma delas fez sentido para mim.

Entre dramas, animações e comédias românticas relevantes um dos filmes que me causou diversas reflexões, tornando-se impossível não escrever sobre ele, foi "Beleza Americana" exibido pela minha professora de psicologia no 1º ano do Ensino Médio em 2002. Incrível como nossa percepção evolui junto com nossa maturidade, pois ao assisti-lo com 14 anos não senti metade do impacto que me foi causado atualmente.

O filme, que foi lançado em 1999 e levou 5 oscars, traz em seu enredo forte crítica à sociedade, seus conflitos, suas inseguranças e sua superficialidade. Lester Burnham, o protagonista, é um homem que está insatisfeito com tudo que o rodeia; seu emprego, suas relações familiares (com a mulher Carolyn e com a filha Jane), e com sua imagem pessoal, sua esposa também está frustrada com a realidade vivida e sua filha é a típica adolescente com problemas de comunicação com os pais e inseguranças típicas da idade. Todavia, eles aparentam ser a família perfeita para qualquer pessoa que não frequenta regularmente este "lar".

Ainda existem outros personagens que representam estereótipos facilmente encontrados no cotidiano: Angela, amiga de Jane, é a típica "loira estéticamente perfeita" e tem diversos casos com homens influentes em busca do sonho de se tornar uma modelo de sucesso. O coronel Frank Fitts é mais uma figura importante para a trama, ele se muda para a rua da família Burnham e demonstra uma postura tradicionalíssima na educação do filho e nos comentários sobre as relações sociais da rua. E para citar apenas mais um personagem indispensável para o filme temos Rick, filho do coronel, que ama filmagem e coleciona equipamentos de última geração apenas trabalhando como garçom. Mas não se engane, se olhados em suas intimidades você saberá que a desinibida Angela é virgem, o coronel Fitts tenta beijar o protaginista da história e Rick na verdade ganha dinheiro vendendo drogas.

E é exatamente esse o ponto que mais me instiga nesta belíssima obra cinematográfica. A nossa capacidade de tirar conclusões sobre as pessoas por meio de pistas aparentemente inquestionáveis, mas, na maioria das vezes ineficazes. Passei por uma situação que me lembrou essa conclusão bem recentemente. Conheci um rapaz na empresa em que trabalho que é noivo. Até aí nada de anormal, mas o que gerava comentários era o fato de ele andar constantemente com uma amiga com a qual ele apresentava extrema intimidade. Logo, não só eu mas todos que conviviam com os dois tinham a mais absoluta certeza que eles tinham algum tipo de relação além da suposta amizade. E lhes digo qual foi a minha surpresa quando numa conversa descontraída fora do ambiente de trabalho a menina me revelou ser lésbica e que tem plena consciência do que as pessoas pensam em relação a ela e ao rapaz. Já ele demonstra muito mais respeito pela noiva do que muitos homens que nunca aparecem na presença de outra mulher, mas quando não estão sendo observados apresentam as mais diversas formas de traição para com as suas respectivas namoradas/noivas/esposas.

Portanto tenha a noção de que aquele seu casal de amigos com um casamento duradouramente invejável pode estar passando por uma infeliz crise conjugal, a menina com fama de devassa pode ser muito menos libertina que aquela que sempre anda com saias até os pés, seu vizinho homofóbico pode ser um gay enrustido, aquele seu colega de trabalho que dá carona à uma amiga todos os dias não necessariamente é infiel à esposa, pois é como diz aquele dito popular: "nem tudo que parece é" por mais difícil que seja acreditar.

Leandro Sá, 22 anos (até então), tentando "olhar bem de perto" antes de emitir opinião sobre qualquer pessoa, por mais complicado que isso seja.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Arte faz bem, cultura também

"Pensar é elegante, ter conhecimento é elegante, ler é elegante, e essa elegância deveria estar ao alcance de qualquer pessoa."

Martha Medeiros

Ao final deste ano concluo o curso universitário ao qual venho me dedicando intensamente desde 2009. Com o final da faculdade se aproximando consigo avaliar com bastante propriedade os aspectos positivos, e aqueles nem tanto, de estar me formando em Letras. Se por um lado acabei descobrindo que não gosto tanto de gramática quanto eu acreditei durante o ensino fundamental e o ensino médio, me formo com a certeza da minha paixão pela literatura, pelo mundo dos livros, pela escrita e pela reflexão acerca de fatores que permeiam a sociedade.

Estava eu no trabalho discutindo com alguns amigos sobre pós-graduação e, enquanto boa parte deles se manifestava dizendo que pretende se especializar em áreas empresariais, eu me atrevi a deixar claro meu grande interesse nas duas pós-graduações que desejo cursar: Estudos Literários e Jornalismo Cultural. No momento ninguém me chamou de louco, nem tentou me convencer a mudar de ideia, como já aconteceu outras vezes, mas foi perceptível o silêncio que fala por si só.

É incrível a desvalorização de arte, e de seu estudo no Brasil - entenda-se aqui por arte “a criação humana com valores estéticos que sintetizam as suas emoções, sua história, seus sentimentos e a sua cultura seja ela a literatura, a música, a pintura, a escultura, etc.”. O mesmo acontece quando falamos de outras áreas de estudo relacionadas à cultura. Parece que as pessoas veem como monótona qualquer leitura ou reflexão mais profunda sobre acontecimentos e comportamentos que são comentados de maneira tão banal no cotidiano. Ouve-se e fala-se todos os dias sobre dificuldade de acesso à cultura, mas não vejo muitas dessas pessoas buscando esse tão requisitado acesso. Espetáculos teatrais cuja entrada custa R$ 5,00 são ignorados porque, apesar da qualidade de texto, figurino, atores e direção não têm “famosos” no elenco, livros de R$ 3,00 lotam as prateleiras dos sebos por não serem as obras literárias “do momento”, programas da TV Brasil (canal aberto de televisão, só para ficar claro) que falam sobre acontecimentos históricos, mostram grandes autores nacionais (sejam eles do século XVI ou do século XXI) e debatem fatos sociais, por exemplo, são ignorados pelo grande público enquanto outros de qualidade um tanto duvidosa exibidos por grandes emissoras alcançam índices inimagináveis de audiência. E assim caminhamos cada vez mais para a alienação.

Todavia, culpar unicamente a população por essa deficiência é leviano. A absoluta maioria de nossos governantes não tem a mínima preocupação com o nosso avanço cultural. Somos bombardeados com tudo o que não gera desenvolvimento intelectual, já que para eles não é interessante criar uma sociedade pensante e assim quem não busca conhecimento por conta prória dificilmente irá alcançá-lo. E o conhecimento é importante, seja para conseguir um emprego ou até mesmo para escolher melhores políticos para nos representar.

Considero importante deixar claro que não tenho absolutamente nada contra quem cursa faculdades ou especializações na área empresarial, muito pelo contrário. O que me incomoda mesmo é ver supervalorização de quem pretende ser executivo em detrimento de alguém que pretende trabalhar com cultura e arte no Brasil. A arte é grande responsável por uma percepção mais sensível da realidade cotidiana e sem ela o ser humano seria muito menos interessante. Por isso pretendo enfrentar esse grande desafio que é ser um profissional das áreas humanas no nosso país. E como eu já afirmei para alguns amigos só me sentirei completo o dia em que eu for um intelectual o que só acontecerá depois de conseguir ler todos os livros, ver todos os filmes e assistir a todas as peças que eu quero – o que só se concretizará se eu tiver direito a mais umas 3 vidas pelo menos).


Leandro Sá, 22 anos. Buscando a minha evolução cultural.

terça-feira, 8 de março de 2011

O Velho e o Moço

“Ora, se não sou eu quem mais vai decidir o que é bom pra mim? Dispenso a previsão.

Se o que eu sou é também o que eu escolhi ser, aceito a condição.”

Rodrigo Amarante. (Los Hermanos - CD Ventura - 2003)

Recentemente, alguns amigos do trabalho atribuíram-me o apelido de “velho”. Apelido esse que aceitei de bom grado, uma vez que confesso sem pudor algum ter em mim um lado cuja idade teima em divergir da certidão de nascimento. Por essa razão, pus-me a refletir sobre o quão relativa é a questão da idade. É fato que, por vezes, me sinto mais velho do que realmente sou, todavia o contrário também acontece, pois se algumas vezes tenho o mesmo pensamento que um senhor de 80 anos, me surpreendo também agindo como um garoto de 12 em determinados momentos.

Admito essa condição com muita facilidade uma vez que me sinto velho a cada vez que vejo adolescentes discutindo trivialidades típicas da idade que, em nenhuma escala, me interessam mais. Sinto-me velho toda vez que vejo as pessoas no auge do seu exibicionismo tentando aparecer mais que as outras por necessidade de auto-afirmação, seja no trabalho, na faculdade ou nas relações sociais cotidianas, e considero isso patético. Sinto-me velho quando é observada a minha veneração pela literatura e a voracidade com a qual me interesso pelos livros, algo tão fora de moda na contemporaneidade áudio-visual em que pensar de maneira crítica não faz parte da vida das pessoas, em especial das pessoas das mais jovens. Sinto-me velho ao ver meus amigos falando da busca pela estética ditada pela mídia como perfeita. E mais ainda quando me choco ao vê-los falar sobre anabolizantes de aplicação duvidosa e efeitos colaterais perigosos tão distantes estão da minha realidade. Sinto-me velho por saber que não preciso ficar bêbado para me divertir quando saio, em contrapartida existem pessoas que nunca vi sóbrias e, por isso, acham que estão no auge da popularidade. Sinto-me velho toda vez que decretam o fim da fidelidade nos relacionamentos e agem com naturalidade frente a isso enquanto eu penso que a traição é uma tremenda falta de respeito com qualquer que seja a relação (Como sou retrógrado!). Sinto-me velho quando me recuso a assistir cada novo block buster que fala sobre jovens americanos estúpidos e seus conflitos no cinema, porém não consigo companhia para assistir a um filme mais reflexivo que não esteja com a bilheteria tão concorrida. Sinto-me velho sempre que sou olhado com espanto ao dizer que o carnaval não é uma das minhas festas favoritas. Seja pelo estado insano que alguns foliões se apresentam, seja por ter certa aversão às aglomerações típicas da manifestação carnavalesca. E sinto-me velho, principalmente, cada vez que solto a frase “no meu tempo...” (nada mais típico da velhice do que dizer “no meu tempo...)". Nossa estou me sentindo um ancião!

Em contrapartida me sinto rejuvenescer toda vez é elogiada a minha alegria de viver, meu bom humor ou quando faço as pessoas rirem. Quando elogiam meu jeito brincalhão, quando dizem que eu tenho uma maneira despojada de encarar os acontecimentos cotidianos, que nem sempre são agradáveis. Sinto-me jovem sempre que a minha presença é solicitada em festas e reuniões de amigos com a intimação que diz “sem você não será a mesma coisa”. Sinto-me jovem quando vejo pessoas da minha idade com a mente fechada para uma série de coisas e quando sou considerado até “moderninho demais” em certas opiniões. Sinto-me jovem toda vez que dizem espantados “como você tem conhecimento para a sua pouca idade” – me perdoem se isso soar prepotente, mas realmente ouvi essa frase algumas vezes. Sinto-me jovem também cada vez que vou dormir às 03h00minh para esperar algum lançamento de música ou videoclipe de algum dos meus ídolos e ainda vibro com isso (quer atitude mais adolescente que essa?). Ok, confesso que realmente apresentei menos razões para que eu me sinta jovem do que as que apresentei para destacar a minha pseudo-velhice e talvez eu seja mesmo psicologicamente mais velho que jovem.

Há um tempo li um texto (não me lembro onde nem quando) que falava sobre essa nossa capacidade de ser ao mesmo tempo crianças e idosos e que tudo depende do contexto em que estamos. Acredito ter ficado claro o quanto eu concordo com tal afirmação. O grande problema é que vivemos numa sociedade que prioriza o novo em detrimento do antigo, refletindo no desejo de juventude eterna de grande parte da população. Desejo esse que só será superado quando conseguirmos equilibrar a positividade da juventude com a serenidade da experiência sem supervalorizar nenhum dos lados.

Leandro Sá, 22 anos no plano físico e quantos quiser no plano ideológico.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Questão de Opinião


Nesta Sexta Feira tive uma reunião no trabalho que me fez acordar bem cedo. Ainda assim dormi às 02:30h na madrugada anterior. O motivo dessa imprudência foi a necessidade quase física de acompanhar o lançamento de “Hold it Against me”, o mais novo clipe de Britney Spears. Apesar do sono que senti no dia seguinte, não me arrependo dessa sandice e só quem é realmente fã de algum artista vai compreender o porquê disso. A princesa do pop que sempre é impecável em seus vídeos não decepcionou os fãs (que nutrem por ela quase uma devoção). No clipe ela luta contra si mesma numa cena de tirar o fôlego, flutua entre telões que exibem suas imagens antigas, além de esbanjar efeitos especiais. Enfim, é algo que vale a pena ser assistido por apreciadores de bons videoclipes.

O que me surpreendeu depois de assistir ao clipe não foi sua qualidade (que eu já esperava) ou as ótimas críticas dos veículos de mídia especializados (que também já seriam previsíveis). A minha surpresa foi ver no fórum de discussões da comunidade da revista “Billboard” (considerada a bíblia da música) no Orkut comentários de alguns membros que depreciavam um clipe que grande parte dos fãs de música pop estava naquele momento exaltando. O meu pensamento foi: Como eles têm a audácia de tecer tais comentários?

Brincadeiras a parte é fato que vivemos numa sociedade ideologicamente plural, o que na teoria é algo fascinante, mas na prática do cotidiano causa efeitos perceptivelmente trágicos. Pense em quantas vezes vemos notícias de mortes em estádios de futebol devido a brigas que têm como único motivo a divergência entre os time pelos quais as pessoas envolvidas torcem. Ou quanto radicalismo surge em uma discussão que aborde temas polêmicos como a legalização da maconha, do aborto, da união civil homossexual, do voto facultativo, do fim do alistamento militar obrigatório ou até mesmo de um videoclipe. Levante qualquer tema desses e você terá não somente uma positiva divergência de idéias, mas, por parte de algumas pessoas, a intolerância destrutiva ao pensamento alheio.

Não estou dizendo que é fácil conviver num mundo de opiniões diferentes. Eu mesmo admito ter certa dificuldade em me relacionar harmoniosamente com pessoas muito diferentes de mim – seja no campo amoroso ou no da amizade. Entretanto me esforço para me desenvolver e superar esse ponto fraco. Obviamente admiro pessoas que defendem o que acreditam e fazem disso um ideal, contudo a intransigência não nos traz nada de positivo. É claro, em minha opinião.

Leandro Sá, 22 anos. Indicando mais uma vez “Hold it Against me” à todos os amantes dessa linguagem artística fantástica que é o videoclipe.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Ser Arriscar Viver


Quando foi lançado o filme “Comer Rezar Amar”, estrelado por Julia Roberts, tentei convencer meus amigos a assisti-lo comigo. Como a película, baseada no livro homônimo e autobiográfico escrito por Elizabeth Gilbert, não havia agradado à maior parte das pessoas que conhecíamos, eles desistiram e eu consequentemente também (até porque não me agrada muito ir ao cinema sozinho).

Recentemente vi uma matéria na televisão em que o filme era citado e resolvi alugá-lo. Diferente do que muitos falaram não o achei monótono. A trama gira em torno de Liz Gilbert, mulher que, insatisfeita com o casamento e a vida profissional, resolve passar o ano em viagem a fim de se auto-conhecer. Ela passa por três lugares: Itália – onde descobre o prazer da gastronomia, Índia – em que percebe a força da oração e da meditação e Bali- onde alcança o equilíbrio intrapessoal e redescobre o amor. A temática abordada me agradou bastante,pois sempre chama a minha atenção a discussão acerca da busca de desenvlimento pessoal e libertação dos valores intrínsecos na sociedade contemporânea, ainda que abordada de maneira um tanto clichê, vale pela reflexão que me causou.

Quantas vezes temos medo de expor nossa própria identidade por medo do julgamento alheio? Tenho certeza que alguns mais outros menos, mas é comum termos medo do que os outros vão pensar ao tomarmos determinadas atitudes. O ser humano recebe uma cobrança natural para agradar aos demais e, ainda que seja uma cobrança indireta, reflete nas situações cotidianas, porém o que mais importa é ultrapassarmos as cobranças e antes da preocupação em agradar os outros nos preocupemos com a nossa própria auto-aprovação.

O tema é tão forte que são inúmeras as músicas que o abordam de maneiras totalmente distintas. Sandy fala sobre esse autoconhecimento na reflexiva “Quem Eu Sou” encontrada no ótimo CD “Manuscrito” (2010). Na canção a cantora fala sobre descobrir-se, procurar seu próprio caminho, libertar-se, e de não ter medo de arriscar viver, pois com esse medo só há perdas. Já a roqueira Pitty, uma das melhores letristas da música brasileira contemporânea, destaca na música “Anacrônico”- faixa do CD de mesmo nome lançado em 2005- as mudanças de valores ao longo da vida tão comuns à construção da identidade que passamos ao longo vida.

Ao final do filme a personagem de Julia encontra um novo amor depois de passar por todas as experiências nos países pelos que visitou. A diferença entre esse novo namoro e os relacionamentos frustrados do início da história não é o homem pelo qual ela se apaixona e sim sua postura perante o relacionamento e o fato dela própria ter evoluído. E essa foi a reflexão final que o filme me causou, apesar de não ter o dinheiro para uma grande viagem como a da senhora Gilbebrt, considero ideal tentar se descobrir e se desenvolver da maneira que podemos.

Leandro Sá, 22 anos. Pedindo desculpas por soar clichê em alguns momentos, ou em todo o texto.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Diminuam as cores (por favor)!



Acompanho o mundo da música (e do entretenimento de maneira geral) há mais de uma década. Por essa razão, tenho percebido muitas transformações nos critérios que fazem o público levar um artista ao topo das paradas de sucesso. O problema é quando essas mudanças vêm atreladas à uma perda de qualidade musical.

Minhas impressões sobre as tão comentadas “bandas coloridas” confesso, não são nem um pouco simpáticas. Angustia-me ver adolescentes gritando por bandas sem comprometimento algum com o que cantam e que, ainda assim, têm integrantes que se intitulam roqueiros. Ainda sou da época em que tocar rock significava ter boas letras e um mínimo de posicionamento ideológico, e apesar de nunca ter sido roqueiro convivo muito bem com eles e aprecio bastante o gênero. Claro que sou muito mais próximo à música pop, que perdoa facilmente atitudes não tão politizadas, mas me incomoda ver bandas de rock assumirem esta postura.

A banda brasileira que melhor representa essas características é o “Restart” com um som chamado de “happy-rock” eles lotam shows e são os favoritos dos adolescentes atuais. Com tendências descartáveis como roupas excessivamente coloridas eles cantam de maneira superficial conflitos amorosos tão bem abordados por bandas da minha geração como “Los Hermanos” e “Skank”. Eles ainda venceram a votação popular do VMB (prêmio musical da MTV brasileira) em 5 categorias, o que lhes rendeu merecidas vaias de uma plateia enfurecida. O perfil do público do “Restart” fica bem claro em um patético vídeo no You Tube, em que um de seus shows é cancelado e os fãs se revoltam com frases como: “Vou xingar muito no twitter” e “Isso é uma puta falta de sacanagem!”. Mas, por mais infeliz que seja eles não vêm sozinhos a moda colorida ainda conta com bandas como: “Cine”, “Replace” (Esses nomes americanizados tendem a me irritar ainda mais) e “Hori”.

Já admiti meu saudosismo há alguns textos e peço desculpas por ter soado, em alguns momentos, radical. Sei que já fui adolescente e, nessa época da vida, é natural nos apegarmos a alguns modismos, porém eu realmente tenho um espírito nostálgico e não há nada que eu possa, ou para ser realmente franco, que eu queira fazer quanto a isso.

Leandro Sá, 22 anos, com saudade da época em que as meninas gritavam pelos “BackStreet Boys”.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Reacostumando ao ócio


Estar de férias é um desejo que abrange 10 entre 10 pessoas. E Janeiro é o mês em que terei a difícil tarefa de não ter tarefas, ao menos não obrigatórias. Não, caro leitor, não estou sendo irônico e muito menos estou tentando pôr-lhe inveja, é que passei tanto tempo do ano na correria cotidiana cheia de horários, prazos e metas a cumprir que, ao me deparar com a ausência de tudo isso surge uma (e me perdoem por amar paradoxos) "agonia satisfatória".

A reclamação do cotidiano faz parte de um processo de adaptação a ele, uma vez que a minha rotina (trabalhar + estudar),é, inclusive, a mesma de muitas pessoas que eu conheço, e por mais cansativa que seja é extremamente agradável.

Se eu for analisar estes dois principais âmbitos não há muitas reclamações a se fazer. No trabalho, por exemplo, 2010 foi um ano de grande crescimento. Na primeira metade do ano eu atuava como operador de atendimento, função extremamente digna, mas que eu já executava há bastante tempo e achava que havia chegado o momento de ir além. Após um criterioso processo seletivo hoje sou instrutor de treinamento e consigo aplicar grande parte dos meus conhecimentos enquanto trabalho, já que me minha função é bem próxima a de um professor. Para mim esse foi um acontecimento realmente significativo, uma vez que, além de mudar de função, conheci outras pessoas que vêm agregando muito na minha vida profissional e pessoal,não esquecendo,claro, os que estiveram presentes anteriormente.

Já no que diz respeito à minha vida acadêmica as alegrias são ainda maiores. A cada dia mais apaixonado pelo meu curso e achando que cada vez soa mais agradável o título de “professor de literatura” 2010 foi um ano de muita leitura e que obtive o maior reconhecimento como futuro profissional do mundo das Letras. Fui convidado para dar uma palestra na faculdade. Se a principio o convite me deixou preocupado, por medo de não conseguir alcançar um resultado satisfatório, me esforcei em dobro para realizar um bom trabalho e foi imensuravelmente gratificante ver um auditório cheio de familiares, amigos e professores elogiando a minha dissertação sobre a “construção da identidade feminina através da literatura”.

É, ao pensar meu ano de 2010 percebo o quanto necessito destes 30 dias de descanso.De fato este é um período em que muitas são as possibilidades de entretenimento e já me prometi a frequência em cinemas e teatros, mais nights com os amigos, escrever mais aqui no blog e tudo que o tempo consumido pela rotina não me permite fazer constantemente, logo, percebemos que não é tão difícil quanto eu imaginava readquirir o hábito de não ter compromissos formais. Sendo assim, paro por aqui e vou me dedicar à minha mais nova obrigação: o tão delicioso ócio.

Leandro Sá, 22 anos,aproveitando meu tempo de calmaria.