domingo, 8 de maio de 2011

Quebra de protocolo



Se eu fosse candidato a algum cargo político, na minha plataforma com certeza faria alusão a algum projeto de lei que extinguisse definitivamente da face da Terra duas das principais mazelas comportamentais humanas: a superficialidade e o moralismo. A primeira é responsável por uma violenta padronização estética e a segunda por uma estruturação comportamental que permeia o imaginário da sociedade de maneira silenciosa e quase imperceptível para quem não tem o hábito de pensá-la.

Temos o script das nossas vidas pronto antes mesmo de chegarmos fisicamente ao mundo. Desde o choro ao nascer, passando pela boa conduta na escola quando somos crianças, do casamento à vida reclusa quando ficamos mais velhos tudo é convenção social. Por isso falar de relações humanas é falar de padronização, que é até necessária para a manutenção de uma convivência coletiva harmoniosa (imaginem se não fosse convencionado que se apossar de bens alheios é algo errado o caos em que viveríamos). Todavia ela pode ser muitas vezes cruel com quem, por qualquer motivo, não se enquadra em algum ponto na normalização previamente determinada pela concordância silenciosa do certo e do errado.

O grande problema dessa homogeneidade social é quando ela torna as pessoas intolerantes a tudo o que fuja ao seu conceito sobre o que seria adequado. Um dos grandes males causados por essa intolerância é o tão comentado atualmente bullying. É triste ver se multiplicarem casos de agressão (física e verbal) dentro do ambiente escolar onde apenas o conhecimento e a integração deveriam ser buscados. E talvez o pior, é que crianças viram adultos e se crescem com essa visão de mundo se tornam os pitboys que de tempos em tempos temos notícias nos jornais.

A pasteurização social é responsável também por outro tipo de violência, essa aparentemente inofensiva. Trata-se da grave orientação das pessoas a seguirem sempre a mesma tendência e, por isso, as vemos com todo um visual quase idêntico. Usam-se as mesmas calças, os mesmos tênis, os mesmos cordões e assim cria-se um exército de alienados sem gosto pessoal que seguem apenas o que está “na moda”. Confesso que fico feliz toda vez que vejo uma mulher que assume seus cabelos cacheados enquanto vivemos a era da chapinha, considero isso quase que uma manifestação (inconsciente) anti-padrão. E essa orientação também rege as pessoas quanto ao que diz respeito à ditadura do corpo “perfeito”. Devido à propagação que é feita através da TV, de revistas, da internet e da infinidade de meios midiáticos as pessoas se sentem obrigadas a terem o corpo do galã ou da mocinha da novela das 8, caso contrário sentem que não conseguirão ser felizes e pior é quando acham correta a necessidade de todos fazerem o mesmo.

Em um de seus últimos singles a cantora “Pink” sugere um brinde a todos os que se sentem fora do que a sociedade julga como admirável. Na verdade eu considero necessário que tenhamos a consciência do quanto somos influenciados por essa pasteurização, mas temos também que saber o quanto ela prejudicial para, só assim, nos libertarmos dela. Fico decepcionado quando vejo as pessoas tomarem atitudes que são, perceptivelmente, avessas a sua ideologia só para terem aceitação e mais triste ainda quando vejo pessoas que não possuem ideologia alguma e simplesmente seguem o que lhes é determinado. Mas de fato tenho orgulho em dizer que, no que depender de mim, sempre haverá alguém para quebrar esse protocolo.

Leandro Sá, 23 anos. Sugerindo um brinde a todos que não se rendem, superficialmente, a um pensamento padronizado.

5 comentários:

  1. Durkheim dizia que somos padronizados desde nosso primeiro contato com a vida pós-parto, pois no momento em que nascemos e por algum motivo começamos a chorar, tem sempre alguém para nos dar colo e nos ninar, mostrando que o certo e não chorar. Mas como saber o que é certo pra alguém que não sabe nem falar?

    Grande abraço Leandro!

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  2. Por mais que a gente pense diferente a gente sente que em algum lugar do mundo tem alguém que pense igual à gente. Sempre penso em tais questões quando mergulho nos mais profundos pensamentos, nunca soube de fato me expressar e com certeza você fez isso da forma mais sublime possível. Pelo amor, pela resistência. Obrigado, irmão.

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  3. Nossa,tudo que você colocou no texto é verdade.Vivemos padronizados desde o dia em que nascemos até o dia da nossa morte.Seguir os padroes da sociedade,virou algo presente em nossas vidas,desde a cor de um esmalte até a roupa que devemos usar.Adorei o texto e a forma que você coloca as palavras,tudo muito bem encaixado e que nos faz refletir bastante sobre o que realmente importa.Adorei!

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  4. Em todo o texto só conseguia ver uma pessoa. Alla Ferreira.

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  5. identidade, meu caro xis. Essa é a palavra que tem sido diluída na sociedade atual. na verdade, tem se valorizado a palavra identidade com um apêndice chamado "coletiva" e aí o individual que foi arduamente conquistado ao longo da história começa a se perder. Não que devamos ser individualistas ao extremo. É como você disse, é necessário que haja alguma convenção social que minimamente estabeleça alguns limites, mas o exagero tanto para um lado qto para o outro se tornam nocivos ao ser humano. Em outras palavras, o que temos perdido, de fato, e em muitas coisas, é o equilíbrio. Parabéns pelo texto e me desculpe pela ausência aqui e no meu blog tb...hehe

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