domingo, 24 de abril de 2011

Olhe bem de perto


Este ano resolvi comprar os DVDs de todos os filmes que, de alguma maneira, marcaram a minha vida, uma vez que já costumo fazer isso com CDs e DVDs musicais. A decisão tem sido positiva, pois assim recordo não só as histórias em si, mas as respectivas épocas em que cada uma delas fez sentido para mim.

Entre dramas, animações e comédias românticas relevantes um dos filmes que me causou diversas reflexões, tornando-se impossível não escrever sobre ele, foi "Beleza Americana" exibido pela minha professora de psicologia no 1º ano do Ensino Médio em 2002. Incrível como nossa percepção evolui junto com nossa maturidade, pois ao assisti-lo com 14 anos não senti metade do impacto que me foi causado atualmente.

O filme, que foi lançado em 1999 e levou 5 oscars, traz em seu enredo forte crítica à sociedade, seus conflitos, suas inseguranças e sua superficialidade. Lester Burnham, o protagonista, é um homem que está insatisfeito com tudo que o rodeia; seu emprego, suas relações familiares (com a mulher Carolyn e com a filha Jane), e com sua imagem pessoal, sua esposa também está frustrada com a realidade vivida e sua filha é a típica adolescente com problemas de comunicação com os pais e inseguranças típicas da idade. Todavia, eles aparentam ser a família perfeita para qualquer pessoa que não frequenta regularmente este "lar".

Ainda existem outros personagens que representam estereótipos facilmente encontrados no cotidiano: Angela, amiga de Jane, é a típica "loira estéticamente perfeita" e tem diversos casos com homens influentes em busca do sonho de se tornar uma modelo de sucesso. O coronel Frank Fitts é mais uma figura importante para a trama, ele se muda para a rua da família Burnham e demonstra uma postura tradicionalíssima na educação do filho e nos comentários sobre as relações sociais da rua. E para citar apenas mais um personagem indispensável para o filme temos Rick, filho do coronel, que ama filmagem e coleciona equipamentos de última geração apenas trabalhando como garçom. Mas não se engane, se olhados em suas intimidades você saberá que a desinibida Angela é virgem, o coronel Fitts tenta beijar o protaginista da história e Rick na verdade ganha dinheiro vendendo drogas.

E é exatamente esse o ponto que mais me instiga nesta belíssima obra cinematográfica. A nossa capacidade de tirar conclusões sobre as pessoas por meio de pistas aparentemente inquestionáveis, mas, na maioria das vezes ineficazes. Passei por uma situação que me lembrou essa conclusão bem recentemente. Conheci um rapaz na empresa em que trabalho que é noivo. Até aí nada de anormal, mas o que gerava comentários era o fato de ele andar constantemente com uma amiga com a qual ele apresentava extrema intimidade. Logo, não só eu mas todos que conviviam com os dois tinham a mais absoluta certeza que eles tinham algum tipo de relação além da suposta amizade. E lhes digo qual foi a minha surpresa quando numa conversa descontraída fora do ambiente de trabalho a menina me revelou ser lésbica e que tem plena consciência do que as pessoas pensam em relação a ela e ao rapaz. Já ele demonstra muito mais respeito pela noiva do que muitos homens que nunca aparecem na presença de outra mulher, mas quando não estão sendo observados apresentam as mais diversas formas de traição para com as suas respectivas namoradas/noivas/esposas.

Portanto tenha a noção de que aquele seu casal de amigos com um casamento duradouramente invejável pode estar passando por uma infeliz crise conjugal, a menina com fama de devassa pode ser muito menos libertina que aquela que sempre anda com saias até os pés, seu vizinho homofóbico pode ser um gay enrustido, aquele seu colega de trabalho que dá carona à uma amiga todos os dias não necessariamente é infiel à esposa, pois é como diz aquele dito popular: "nem tudo que parece é" por mais difícil que seja acreditar.

Leandro Sá, 22 anos (até então), tentando "olhar bem de perto" antes de emitir opinião sobre qualquer pessoa, por mais complicado que isso seja.

5 comentários:

  1. Parabéns pelo texto.
    Estou também tentando aprender a "olhar bem de perto". =D

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  2. Belo texto Leandro, acho que vc não poderia exemplificar da melhor forma essa idéia de que "nem tudo que parece é" relacionando com o filme. Muitas vezes julgo as pessoas pelo o que elas parecem ser.
    Essa idéia de comprar cds e dvds que marcaram sua vida é uma ótima sugestão pra mim, porque já tem um tempo que não faço isso. Acho que um dia eu começo. Grande beijo!

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  3. Olá Leandro, muito boa sua ideia de comprar os DVD favoritos, imagino se eu fosse fazer isso também ... achou que ia falência, kkkk. Pois não dou conta dos livros que gostaria de ter!
    Muito bom seu texto, adorei seu blog.
    Inté!!

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  4. Também tento olhar de perto e se possível por dentro. Não é fácil, pois realmente quase sempre nos deixamos levar pela primeira "fotografia" que tiramos, desprezando outras que podem revelar muito mais detalhes.
    Parabéns, Leandro. Mais uma vez nos fazendo pensar.

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  5. Gente, é isso que eu falo em todos os meus treinamentos. Ministramos isso quando falamos da competência "Maturidade". Como é bom ter amigos cultos como vc! Rs... Vc é um formador de opiniões. T adoro... Vlw... =)

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