quinta-feira, 7 de abril de 2011

Arte faz bem, cultura também

"Pensar é elegante, ter conhecimento é elegante, ler é elegante, e essa elegância deveria estar ao alcance de qualquer pessoa."

Martha Medeiros

Ao final deste ano concluo o curso universitário ao qual venho me dedicando intensamente desde 2009. Com o final da faculdade se aproximando consigo avaliar com bastante propriedade os aspectos positivos, e aqueles nem tanto, de estar me formando em Letras. Se por um lado acabei descobrindo que não gosto tanto de gramática quanto eu acreditei durante o ensino fundamental e o ensino médio, me formo com a certeza da minha paixão pela literatura, pelo mundo dos livros, pela escrita e pela reflexão acerca de fatores que permeiam a sociedade.

Estava eu no trabalho discutindo com alguns amigos sobre pós-graduação e, enquanto boa parte deles se manifestava dizendo que pretende se especializar em áreas empresariais, eu me atrevi a deixar claro meu grande interesse nas duas pós-graduações que desejo cursar: Estudos Literários e Jornalismo Cultural. No momento ninguém me chamou de louco, nem tentou me convencer a mudar de ideia, como já aconteceu outras vezes, mas foi perceptível o silêncio que fala por si só.

É incrível a desvalorização de arte, e de seu estudo no Brasil - entenda-se aqui por arte “a criação humana com valores estéticos que sintetizam as suas emoções, sua história, seus sentimentos e a sua cultura seja ela a literatura, a música, a pintura, a escultura, etc.”. O mesmo acontece quando falamos de outras áreas de estudo relacionadas à cultura. Parece que as pessoas veem como monótona qualquer leitura ou reflexão mais profunda sobre acontecimentos e comportamentos que são comentados de maneira tão banal no cotidiano. Ouve-se e fala-se todos os dias sobre dificuldade de acesso à cultura, mas não vejo muitas dessas pessoas buscando esse tão requisitado acesso. Espetáculos teatrais cuja entrada custa R$ 5,00 são ignorados porque, apesar da qualidade de texto, figurino, atores e direção não têm “famosos” no elenco, livros de R$ 3,00 lotam as prateleiras dos sebos por não serem as obras literárias “do momento”, programas da TV Brasil (canal aberto de televisão, só para ficar claro) que falam sobre acontecimentos históricos, mostram grandes autores nacionais (sejam eles do século XVI ou do século XXI) e debatem fatos sociais, por exemplo, são ignorados pelo grande público enquanto outros de qualidade um tanto duvidosa exibidos por grandes emissoras alcançam índices inimagináveis de audiência. E assim caminhamos cada vez mais para a alienação.

Todavia, culpar unicamente a população por essa deficiência é leviano. A absoluta maioria de nossos governantes não tem a mínima preocupação com o nosso avanço cultural. Somos bombardeados com tudo o que não gera desenvolvimento intelectual, já que para eles não é interessante criar uma sociedade pensante e assim quem não busca conhecimento por conta prória dificilmente irá alcançá-lo. E o conhecimento é importante, seja para conseguir um emprego ou até mesmo para escolher melhores políticos para nos representar.

Considero importante deixar claro que não tenho absolutamente nada contra quem cursa faculdades ou especializações na área empresarial, muito pelo contrário. O que me incomoda mesmo é ver supervalorização de quem pretende ser executivo em detrimento de alguém que pretende trabalhar com cultura e arte no Brasil. A arte é grande responsável por uma percepção mais sensível da realidade cotidiana e sem ela o ser humano seria muito menos interessante. Por isso pretendo enfrentar esse grande desafio que é ser um profissional das áreas humanas no nosso país. E como eu já afirmei para alguns amigos só me sentirei completo o dia em que eu for um intelectual o que só acontecerá depois de conseguir ler todos os livros, ver todos os filmes e assistir a todas as peças que eu quero – o que só se concretizará se eu tiver direito a mais umas 3 vidas pelo menos).


Leandro Sá, 22 anos. Buscando a minha evolução cultural.

6 comentários:

  1. Show, gente! Muito show! Bravoooo! Hehehehe... Eh exatamente isso ae. Apesar de ser um dos que escolheu uma "pós do meio empresarial" (rs...) curti muito este texto e concordo. Não podemos supervalorizar o "organizacional" e detrimento do "cultural, humanista, etc."

    Saudades mil...

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  2. Leandro, parabéns por mais um texto que nos faz pensar no quanto somos acomodados e nos deixamos levar pelas marés do modismo. Optamos na maioria das vezes, levando em conta apenas o retorno financeiro, quando deveríamos levar em conta nosso real desenvolvimento humano e em como podemos contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Você certamente tem essa visão e, consequentemente terá muito sucesso na sua escolha. Vá em frente, o Brasil precisa muito de pessoas como você.
    Forte abraço.

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  3. Achei o texto bem escrito, não só visando um ponto de vista.Gosto da crítica sutil a população e aos governantes. Enfim um ótimo texto e muito bom o tema.

    Jonathan

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  4. Você é simplesmente demais, faço minhas as suas palavras, apesar de não estar na área de humanas, concordo com você quando diz sobre a alienação em que as pessoas vivem, isso é muito triste e muito complicado, cada vez mais temos n=menos pessoas para conversar e compartilhar nossas idéias, espectativas e anseios.
    Danielle Cristine
    19/04/2011 10:02

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  5. Nossa Leandro,estou encantada com a forma com que você escreve,espero chegar na metade do curso com a visão que você consegue ter.Realmente seu texto me fez refletir no que realmente importa ganhar dinheiro e viver bem?ou ganhar pouco e ser feliz e realizado?

    Adoreiii!!!

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  6. Cada escolha tem seu preço e eu sei que a minha não será fácil. Viver de história nesse país onde panelas ainda se encontram vazias. Quase ninguém está de acordo com minha decisão, mas eu sei exatamente o que quero. Pela cultura, pelo conhecimento, pelo amor.

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