sexta-feira, 26 de abril de 2013

Mas você é tão jovem



Toda vez que me assumo uma pessoa nostálgica, declaro meu amor pela arte ou digo não ter mais paciência para passar a noite dentro de uma boate existe uma frase que, em geral, é dita automaticamente pelo interlocutor que ouve a declaração: “mas você é tão jovem”.

O problema desse tipo de comentário é o fato de ele carregar a concepção da existência de uma única maneira pela qual é possível manifestar juventude. Sei, por exemplo, que o saudosismo é atribuído a pessoas mais velhas pelo óbvio motivo de estarmos falando de quem, na teoria, tem mais coisas para sentir falta. Contudo, me irrita profundamente a maneira como a nossa sociedade, viciada em criar e disseminar estereótipos, constrói a ideia do que é ser jovem ou do que é ser velho.

A minha presença frequente em centros culturais é descrita por alguns amigos como “coisa de velho”. Em relação a saídas noturnas, a situação fica ainda mais complicada. Tive meu período baladeiro mas ele já acabou faz alguns anos. E toda vez que manifesto certa resistência a ir para uma boate escuto a frase título da crônica ou alguma de suas variações.

Enfim, talvez eu seja mesmo o cara chato nesse ponto e, por isso, esteja aqui criticando associações que muita gente se acostumou a não questionar. Acredito ser importante elucidar o fato de a reflexão toda girar em torno da falsa imagem construída sobre o que seria próprio para determinada idade. Sendo essa noção prejudicial para um jovem que escute Cauby Peixoto (não é o meu caso, mas poderia ser) ou para um idoso que queira curtir um show de heavy metal. E, portanto, eu me permito atitudes consideradas velhas agora por saber que também vou me dar o direito a atitudes jovens aos setenta.

Leandro Sá, 25 anos, acreditando que toda forma de juventude (ou de velhice) vale a pena.

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